Narrador(a):
Ainda aqui? Vejo que não vai desistir dessa história tão cedo. Bom, escolha seu lugar e se prepare, porque apesar de ser uma das minhas histórias preferidas, não é bem como um conto de fadas. Talvez seja exatamente por isso que é minha história preferida, não?
O sol já tinha nascido, mesmo que estivesse escondido por trás das nuvens naquele dia tão peculiar. A chuva tomava conta dos céus desde a noite anterior, não parou nem sequer por um minuto. O quarto estava uma bagunça, a garota deitada naquela cama que parecia tão vazia, mesmo sendo enorme. Tudo sem ele era incompleto.
Ela se mexeu um pouco, sem querer se levantar de verdade. Não se lembrava de nada do seu sonho, mas só o fato de não ter que lembrar de nada parecia perfeito. Não lembrar do passado, mesmo que o dia anterior ainda tenha sido tão recente.
Um tempo depois de se forçar a dormir novamente e não conseguir, ela virou de barriga pra cima e abriu os olhos. Ficou olhando aquele teto branco como neve por alguns instantes, mas a neve lembrava os cabelos louros dele.
Ela então apertou os olhos e se virou, ficando de lado na cama e vendo a janela, estava chovendo. A chuva lembrava "os amantes da chuva". Ela se sentou na cama e, como se seu coração já não estivesse despedaçado o suficiente, a imagem daquele quadro, pintado com tantos sentimentos, estava lá, parado, quando ela precisava que fosse queimado.
Só as chamas seriam capazes de destruir aquela imagem, pesou ela. Mas não, nem mesmo o fogo ardente era capaz de deletar aquela memória de sua mente, que vinha a tona sempre que olhava para aquela tela.
S/n balanço a cabeça, tentando acordar, mas no fundo ela sabia que era para dispersar qualquer lembrança que a fizesse lembrar dele, daquele garota da pele pálida que, sem ela saber, passou a noite em branco e eu ousaria dizer que suas lágrimas foram mais pesadas que a chuva que regou a cidade.
Foi até o banheiro, se olhou no espelho grande que ficava acima da pia. Seus olhos inchados e, embaixo deles, uma mancha preta dos resquícios de maquiagem que tinha ficado em seu rosto depois de tomar um banho, que não tiha como objetivo limpa-la, mas tirar a cena que tinha acabado de acontecer de sua cabeça.
Seus lábios ressecados, mas ainda assim avermelhados. Sua pele mais pálida que o normal, parecia uma rosa murcha, morta. Mas, tanto eu, quanto você quanto ela, sabemos que na verdade ela não está morta, mas apodrecida.
ligou a torneira, levou as mãos à água fria, mas quente o suficiente para ela elas essas mesmas mãos para o rosto e lavar a face. Suas olheiras estavam mais nítidas que nunca, podia-se ver de longe que a garota não estava bem.
Ela respirou fundo, escovou os dentes, penteou o cabelo, mesmo que seus braços mal tivessem forças pra isso. Ai final de tudo, passou um pouco de maquiagempara esconder as marcas e olhos inchados, estava acabada e se seus pais vissem isso, agiriam na hora.
Ah, seus pais. Mesmo que tivesse visto eles no dia anterior, era como se não os visse há anos. Não fazia ideia do que aconteceu na sua família depois que fugiu, não tinha notícia deles e até tentou mandar cartas, mas eles nunca as receberam.
Se lembrou mais uma vez dele, aquele que não vou nomear porque se eu o fizesse, não seria justo com ela. Se ela escutasse o nome dele, cairia aos prantos no mesmo momento.
Já vestida, S/n desceu as escadas contendo as emoções e, ao ver os pais tomando o café apressados par chegarem logo no trabalho, só faltou desabar. Como poderia algo assim ser possível? Eles estavam bem ali, de pé, tomando a xícara de café como se não soubessem de nada e, de fato, não sabiam.
A garota apenas foi ao encontro deles e os abraçou com tanta, mas tanta força que sentiu que não conseguiria conter o choro, mas fez o possível. Eles estranharam, mas nunca negaram nenum amor para ela então retribuiram o carinho.