(Amélia aí em cima)
Draco:
A Inglaterra não estava muito diferente do que eu lembrava. O ar frio e ríspido que ruborizava o rosto de todos ainda era o mesmo, as pessoas continuavam as mesmas, com a mesma falta de empatia e corações congelados, mas um pouco aquecidos.
Já fazia cinco dias desde que parti de Deadwood, mas pareciam horas. Talvez até minutos. Não trouxe celular nem nada com que pudessem me rastrear. Foi de certa forma complicado simplesmente dizer aos meus pais que ia viajar e não tinha data para voltar.
Depois de uma longa discursão, depois do incidente no hospital, deixei o pais o mais rápido que pude. Eu apenas não suportaria nem um único segundo a mais lá, naquele lugar sufocante. Não era sufocante antes, mas passou a ser.
Mas eu não estava triste, não mais. Talvez um pouco, mas não o suficiente para me afetar. Não foi fácil, mas eu deixei de lado esse peso que carregava nas costas.
Tenho que admitir que meu coração já não bombeava mais sangue, mas sim dor. Escutar suas palavras naquele dia, no meio daquele tempestade na rua, me destruiu mais um feitiço imperdoável.
Mas, acima de toda a dor, sabia o que tinha que fazer. Não menti quando disse que não a deixaria ir sem lutar, mas lutar não significa usar as mãos ou palavras. O silêncio ia falar mais que um poema.
Durante uma vida inteira ao meu lado, ela desejou o que tem agora. Sempre dizia a mim mesmo que ia passar, que algum dia ela ia acordar e deixar o passado para trás. Ela vai ser feliz conosco, comigo, repetia mentalmente antes.
Mas eu não passaria essa vida assim. Não seria tão fraco quanto fui antes. Não permitiria ser usado como lixo, como a segunda opção que sempre fui para ela. Apesar de eu ama-la inteiramente, cada pedaço de seu corpo e alma, eu não cometeria o erro duas vezes.
-
Ao todo, estava na Inglaterra há 4 dias. Já havia visitado alguns lugares sem uma ordem específica. Porém tinha alguém que eu precisava encontrar e parte do motivo de eu estar lá era por ela.
Não estava preocupado em achar nenhum ex amigo ou parente, mas eu sentia a obrigação de encontrá-la. Sem dúvidas, ela foi a pessoa que mais nos ajudou na outra vida, mesmo que de longe.
Tenho certeza que, se possível, ela teria sido nomeada a madrinha de nossa filha. Mas, por questões de segurança, tanto da S/n quanto a minha, precisávamos permanecer em constante mudança e escondidos. Por mais que ela não soubesse, dediquei minha vida para sua proteção.
E, por isso, não seria mais sua segunda opção. Não seria o que lhe restou. Se ela me quisesse, teria que me escolher a dedo. Precisaria me amar ao ponto de largar sonhos do passado por mim. Por nós.
Não fazia ideia de como acharia o endereço de Amélia, não sabia nem o da vida passada, muito menos o de agora. Nem sabia ao certo se ela estava viva nessa vida, ainda não entendia muito bem como isso funcionava e não estava a fim de aprender.
Me perguntei se ela era bruxa aqui. Eu e S/n não, dá pra sentir a diferença. Antes sentia poder exalar de mim e agora nada.
Eu então entrei em uma lanchonete. Não era lá muito grande, mas acolhedora. A bancada de frente para o local de atendimento era larga e com alguns bancos altos. As demais mesas eram para duas ou mais pessoas e, sem medo de assumir minha solidão, me sentei em um dos bancos da bancada.
Minhas pernas chegavam a ficar penduradas, assim como as dela ficavam em cadeiras de tamanho normal. Alguns dias atrás, lembrar dela era sinônimo de dor. Mas agora me trazia um sorriso bobo.