Narrador(a):Já ouviram falar na expressão "quem procura acha, mas nem sempre encontra o que deseja"? Considere um aviso prévio de mim, narradora, para você, caro leitor.
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Uma espécie de névoa surgiu em sua mente, trazendo consigo não apenas um turbilhão de memórias, mas também sentimentos, diversos deles.
A primeira foi de uma garota, pele pálida quase prateada, adentrando um rio negro como o céu em pleno oceano. Estava nua, o vento vestia seu corpo e a água o início de suas coxas, cobrindo cada vez mais seu corpo à medida que ela entrava mais no rio.
A imagem era a visão de um artista ao dar sua última pincelada na tela de sua melhor arte, de um poeta ao escrever a última palavra de seu poema e de um bruxo ao conjurar o patrono pela primeira vez.
Encantador era a palavra que melhor descrevia a cena para o moreno.
Vê-la olhar por cima do ombro para ele, que antes aparentava estar sentado na grama, mas agora estava de pé com um tarça de sorvete de chocolate nas mãos.
Ele olhou para suas mãos, sentiu o vidro gelado que continha o sorvete, quase frio como a neve. Desviou o olhar para a jovem do rio novamente, mas ela já não estava mais lá. Na verdade, ela estava, mas não como antes.
Agora, a imagem que seus olhos contemplavam confusos era a da mesma jovem, mas agora coberta por um vestido negro, os cabelos arrumados. Via apenas sua silhueta de costas conversando com outra pessoa, e não demorou muito para que ele reconhecesse aquela outra pessoa. Era ele, Cedric Diggory.
Olhou para as mãos novamente, não estava mais segurando nada, mas ainda com aquela roupa que colocou após o jogo. Ergueu o olhar e, para sua surpresa, ainda estava no mesmo lugar.
Novamente, as imagens foram mudando e mudando com qualquer gesto do garoto antes que ele conseguisse fazer algo, se aproximar, falar algo.
Memórias e memórias foram rodando e se mostrando para aqueles olhos de chocolate, de carvalho no inverno.
"S/n... Minha pequena, S/n" murmurou para si mesmo enquanto via aquelas centenas de imagens tomarem-lhe a consciência.
E então, estava de frente com a menina, mas ela não o via, ele era transparente, uma névoa em suas memórias. Ela estava sentada, de costas para ele. Não ele de agora, aquele outro ele que estava em suas memórias ao lado dela. Um sorriso se formou em seus lábios vendo aquela doce garota sorrir, gargalhar e revirar os olhos das piadas sem graça dele.
A menina ria, sorridente e exalando felicidade por cada milímetro de seu corpo. Até mesmo seu coração quebrado estava radiante de alegria naquele momento. O coração quebrado...
Em um piscar de olhos, o sorriso da menina se transformou em lábios contraidos, secos. Os olhos agora transbordavam, lágrimas que levavam consigo um peso inimaginável.
Ele deu um passo hesitante, a menina estava curvada de joelhos na grama, a roupa e perna sujas de lama à medida que ele percebia que estava chovendo. Começou a sentir os pingos d'água pesados caindo sobre seus ombros, alagandos seus cabelos.
Sentia a água pesada como as lágrimas da garota. O peso daquele céu, não era apenas chuva. Nenhuma chuva nunca fora apenas um momento, uma estação do ano.
Quem seria o companheiro mais presente dessa história? Cedric Diggory, aquele que morreu com honra no torneio? Draco Malfoy, o garoto que só queria ser amado? Eu? Você? Não, não fomos nós.
O moreno se aproximou lentamente da menina sentindo seus joelhos falharem sob o tecido grosso da calça. Quanto mais se aproximava, mais seu coração quebrava.