Tilintar de metais, conversas paralelas, choros, telefones tocando. Esse era o cenário em que me encontrava naquele momento, apesar de não me sentir em lugar algum.A algazarra me tirava a pouca consciência que ainda tinha. Sentada com os joelhos na altura do peito e mãos na cabeça, tentava entender algo.
Tudo aconteceu tão rápido que ficava tudo repassando em minha memória feito um filme em uma tela.
Um estrondo de batida, barulho de ambulância, o alarme do carro, choro, grito e uma voz sussurrando no meu ouvido.
"Prometi estar com você naquela maldita cadeira de balanço" dissera ele. Aquela frase tão simples, vulgar até, me fez prender a respiração sem ao menos perceber.
Senti-lo vivo, sentir seu cabelo marrom feito terra depois da chuva roçando no meu pescoço. Saber que ele estava vivo. Eu devia estar bem, devia pular de felicidade, mas fiquei parada. Parada encarando aquele corpo deitado no chão.
A jaqueta jogada ao lado do corpo. Estava tudo alagado e pude ver sangue se misturando com a água da chuva no asfalto áspero.
Não sei bem o motivo, na verdade sei, mas não quero admitir, de eu ter me levantado, me desvencilhando de Cedric por mais que ele me agarrasse com uma força cortante.
Me afastei dele a força e, mesmo ele me puxando pelo cotovelo, corri pela pista cheia de pessoas horrorizadas com o acidente. Empurrei todos que estavam no meu caminho, me ajoelhando ao lado daquele garoto caído no chão.
"Cedric. Cedric, vai ficar tudo bem" lembro de ter gritado contra a chuva forte me curvando sobre seu corpo. Sua cabeça estava sangrando por trás. Coloquei uma mão em sua nuca e o segurei contra mim.
Ele estava inconsciente, mas empurrei a mão contra seu ferimento para estancar o sangue sem me importar com mais nada.
"S/n? S/n!" gritou uma voz. Eu conhecia aquela voz, mas fingi não conhecer. Minha cabeça simplesmente não relacionava a voz com a pessoa, não processava isso.
Enfim, voltei para onde estava. O hospital.
Lágrimas quentes desciam pela minha bochecha, mas não me preocupei em limpá-las.
Cedric- Toma.- disse estendendo o braço com uma bebida para mim.- Não achei nenhuma comida razoável na máquina, mas daqui a pouco vou comprar.- se sentou na cadeira ao meu lado e eu apenas peguei a bebida sem nem olhar em seus olhos.
Cedric- Teve mais notícias?- seu tom de voz estava preocupado, assim como ele, mas minha cabeça estava pesada demais para eu prestar atenção nesses mínimos detalhes. Quando não teve respostas, ele apertou os lábios e acrescentou- Você quer falar sobre aquilo?
S/n- Eles estão dormindo e Oliver está fazendo alguns exames.- respondi ríspida e dei um gole da bebida em seguida. Eu estava bloqueando nossa conversa o máximo possível pelo menos por essas horas.
Ele respirou fundo e esticou a coluna piscando repetidas vezes para espantar o sono. Já estávamos no hospital por cerca de 4 horas, já era tarde da noite nesse momento, quase madrugada.
Me recusei a deixar o hospital que, apesar do nome, parecia me deixar mais doente a cada segundo. Meus pais não tiveram ferimentos graves, ao contrário do carro, e Oliver continuava fazendo exames e mais exames.
Não era familiar de Oliver então não pude visitá-lo por hora, mas também estava lá por ele. Não erámos tão próximos, mas acho que devo isso a ele mesmo que a primeira vez que o vi ele estivesse deitado no asfalto com sangue escorrendo da cabeça.
Cedric- Se quiser eu te levo pra casa, precisa descansar também e vai fazer bem a você.- sugeriu me olhando fixamente, mas meu olhar permanecia vidrado no chão.- Vou ligar o carro e- já estava se curvando para se levantar, mas o cortei antes que fizesse esforço em vão.