Senti um feixe de luz em meu rosto e pisquei repetidas vezes. Me remexi um pouco também e percebi que uma espécie de manta me aquecia o corpo. Levei a mão ao rosto, cobrindo os olhos da luz do sol que penetrava por uma janela perto da cama onde eu estava deitada.
Olhei em volta e vi que estava em um quarto claro, sem muita decoração, mas alguns livros e móveis de qualidade. Sacudi um pouco a cabeça e senti uma pontada em minha têmpora, indicando uma possível enxaqueca ou tontura.
Puxei os lençóis de seda e a manta que me cobriam. Eu vestia uma camisa social masculina, que ficava como um vestido em mim. O tecido era branco e estava amassado, provavelmente por eu ter dormido com ela. Mas não era a mesma roupa que eu estava usando antes de desmaiar.
Fiz algum esforço e me lembrei de minhas últimas visões antes de desmaiar. Draco. Arregalei um pouco os olhos procurando Draco, mas eu estava sozinha no quarto. Joguei o corpo para o lado e minhas pernas ficaram penduradas na borda da cama.
Estiquei o corpo e meus pés tocaram o chão, era frio de gelar o sangue. Ignorei a porcelana gélida do piso e comecei a dar alguns passos nas pontas dos pés. A camisa ficou mais larga em mim quando me levantei.
Comecei a olhar em voltar e andar pelo quarto para saber de quem era, apesar de eu já ter minhas suspeitas. Eu então vi alguns livros empilhados na mesinha perto do sofá e me aproximei.
Levei a mão até os livros, mas, antes que eu os tocasse por curiosidade, escutei um barulho do lado de fora, passos leves, mas os sapatos ecoavam o som pelo corredor de fora. Corri de volta para a cama nos saltos e me enrolei de novo com o lençol e a manta, fingindo ainda estar dormindo.
Escutei a porta se abrir e fechei os olhos, apertando bem. Alguém entrou, fechou a porta novamente, e começou a andar na direção da cama. Queria abrir o olho para ver quem era, mas o nervosismo era maior.
A pessoa colocou algo no criado mudo ao lado da cama, que percebi ser uma caneca de chocolate quente quando senti o cheiro. Então ela foi para o sofá e se sentou sem falar nada. Entreabri um pedacinho dos olhos e vi a caneca em cima do cômodo ao meu lado, saía fumaça ainda.
Me curvei um pouco na cama, olhando para o sofá sem fazer barulho para fingir que ainda estava dormindo. Depois de me mover com dificuldade, ainda deitada na cama envolvida pelos tecidos, vi quem eu queria ver.
Draco estava sentado no sofá, uma perna em cima da outra com um dos livros que estava na mesinha, mas agora estava em sua mão. Seu olhar era fixo no livro, como se eu nem estivesse ali. Ele vestia um terno preto, que lhe caía muito bem. Seus cabelos finos chamavam minha atenção e quase não consegui ver seus olhos azuis.
Draco- Se demorar o chocolate quente vai esfriar.- Disse, sem tirar os olhos dos livros e com um tom de voz calmo. Arregalei os olhos, mas logo os fechei de novo fingindo que estava dormindo de novo.- Você seria uma péssima atriz.
Draco largou o livro no sofá e, finalmente, desviou o olhar para mim ainda sentado lá. Permaneci com os olhos fechados e imóvel, não sabia o que falar ou fazer por mais que minha situação fosse vergonhosa naquele momento.
Alguns segundos se passaram e puxei os lençóis para baixo, abrindo um pouco os olhos e desviando o olhar para ele na esperança de ele não estar me encarando mais, mas não dei sorte. Seus olhos azuis continuavam fixos em mim, me observando sem nenhuma expressão óbvia no rosto.
Não ousei fechar os olhos de novo, ele já sabia que eu estava acordada e não tinha mais nada a ser feito. Engoli em seco e me sentei no colchão, apoiando as costas na cabeceira da cama. Ele ainda me olhava com serenidade e o silêncio recaiu sobre nós, me fazendo sentir uma ansiedade crescente dentro de mim.