De repente, meu corpo ficou dolorido e pude sentir meu coração bombeando mais e mais rajadas de sangue. Meu pulso estava irregular, para combinar com minha respiração.Queria falar algo, mas nenhum som saiu da minha boca. Simplesmente senti um caroço na garganta que me impedia de falar e apenas gaguejei algumas sílabas sem sentindo algum.
Amélia riu para si, aquele riso de escárnio que eu odiava quando saiu de sua boca. Ela me fitou com os olhos por alguns momentos e não era preciso muito para saber que meus ombros estavam tensos, eram quase pedra.
S/n- C-como? - Foi tudo o que consegui falar depois de engolir areia de tão seca que minha boca estava, e pude até sentir os grãozinhos arranhando minhas cordas vocais, por mais que fosse apenas psicológico.
Amélia- Sim, foi isso mesmo que você ouviu. Ou está surda? Não me surpreenderia se estivesse, é imprestável de toda forma. - Se tivesse magia, faria com que ela repetisse cada uma dessas palavras enquanto se contorcia com um crucio.
Ela tirou a varinha de dentro da saia, estendeu até o freezer e sussurrou algo que não fui capaz de entender. Apesar de já ter sido bruxa uma vez, não tinha mais esse dom nessa vida e isso me fez esquecer alguns feitiços, mas tenho certeza que esse eu nunca ouvi ou pratiquei.
Amélia recuou alguns passos e eu continuei no chão, largada com Draco no colo e lágrimas secas no rosto. Pelo menos o choro tinha parado, mas meu desespero estava longe de ter fim. Alternei o olhar entre Amélia e o freezer, mas um momento de silêncio se instalou na cozinha e, ao invés de me tranquilizar, me assustei ainda mais.
S/n- O que você...- Antes que eu acabasse minha pergunta mal formulada, algo finalmente aconteceu. Uma mão saiu de dentro do freezer e agarrou um lado das paredes do freezer. Pude ver os dedos se apertando e meus olhos se arregalaram de uma forma que eu não sabia que era possível.
Amélia- Vamos, não tenha medo. - Sua voz ainda era doce e suave, o que deixava tudo mais aterrorizante. E então outra mão saiu do freezer e agarrou o outro lado. Percebi que seja lá o que fosse, ou melhor, Oliver, ia se levantar. - Temos visitas, não seja mal educado! - Agora seu tom de voz parecia com a de uma mãe para um filho, ou uma bruxa, falando com sua criação, por mais monstruosa que fosse.
Lentamente, vi as mãos fazerem força e os tendões ficarem à mostra. Uma cabeça foi se mostrando à medida que ele pegava impulso para ficar de pé, ou pelo menos sair do freezer. Dava para ver a "fumaça" saindo de lá, estava mais para uma neblina de ar congelante.
Esperava ver o Oliver que conhecia, aquele que estava no hospital meses antes, ou o jogador de quadribol de Hogwarts. Mas ao vê-lo, minha reação foi mais de horror do que qualquer outra coisa.
Ele ficou de pé no freezer e pude ver todo o seu corpo desde o início de sua coxa, para cima. Seu rosto já não era o mesmo de antes, tinha os olhos fundos como o de um cadáver, se é que ele não era um. Seus braços não eram mais musculosos, mas sim magricelos e, visivelmente, fracos. Sua pele estava manchada de verde, um verde lama, e roxo escuro. Preto também em algumas áreas.
A maçã do rosto estava toda exposta, parecia mesmo um defunto sem carne nenhuma, só ossos. Seu cabelo havia sido raspado e estava vestindo um camisa que quase não lhe cobria o corpo. Era um tecido fino e cavado nas laterais e tive certeza que ninguém suportaria ficar dentro de um freezer usando apenas trapos como esses.
Amélia- Muito bem, agora dê boa noite aos nossos convidados. - Ele girou o pescoço em um movimento rígido que me fez tremer. Seus olhos encontraram os meus e senti que estava de frente para a morte. A imagem de Oliver tão próximo da morte era tão perturbadora que ficaria em minha mente por anos (e realmente ficou). Ele fez força e vi as veias de seu pescoço ficarem um pouco mais aparentes, mas bombeando pouco sangue. Ele parecia implorar por salvação, mas sem esperanças. - Ah, desculpe, esqueci que não pode falar.