Ballerina

Vingt-Huit

Ellen acordou no dia seguinte e o sol parecia forte na rua, tanto que lutava contra as cortinas do quarto de Patrick querendo entrar a qualquer custo. O corpo dele já não pesava mais sobre ela como na noite anterior, o braço dele só estava por cima dela e a respiração calma batendo contra o cabelo loiro. Soltou um suspiro e virou o rosto para enxergá-lo, dormia tranquilamente e as olheiras não pareciam tão fortes, se perguntou por um momento quanto tempo ele costumava dormir. Retirou com calma o braço à sua volta e o ouviu resmungar algo, mas logo ele ficou de bruços com as mãos embaixo do travesseiro.

Ela vestiu uma camisa dele para cobrir o corpo nu, pegou de cima do sofá a roupa que ele lhe dera, a calça jeans, blusa preta, se vestiu fazendo o mínimo de barulho possível, deixou a escova de dentes dela ao lado da dele e voltou ao closet, a temperatura lá fora apesar do sol, era fria, ela não podia sair apenas com uma blusa de mangas, pegou um suéter azul marinho, mais um para fazer companhia ao cinza que ela tinha guardado em casa. O vestiu e o adaptou em seu corpo, mesmo assim ainda era largo. Antes de calçar os saltos, pegou o vidro de perfume quase vazio, como ela disse que faria.

Suspirou ao vê-lo dormir, o olhou por alguns instantes até se aproximar e lhe dar um selinho acompanho de um carinho no cabelo.

E então foi embora.

Patrick resmungou virando na cama, passou o braço pelo espaço vazio na cama e abriu os olhos em um susto ao percebê-la vazia, aguçou sua audição, mas não havia barulho algum no banheiro ou no closet, apenas na cozinha.

- Ellen. – chamou, mas não houve resposta.

Levantou vestindo uma calça de moletom e caminhou se arrastando pelo corredor, sala e então cozinha, viu apenas a governanta com uma empregada na cozinha.

- Bom dia Patrick. – a governanta disse simpática servindo uma xícara de café para ele enquanto a outra organizava a louça na máquina.

- Bom dia Catarina, viu alguém sair agora pela manhã? – pegou a xícara ignorando o olhar da outra.

- Sim. – respondeu calma lançando um olhar para a outra que não tirava os olhos de Patrick – Pode guardar os itens abertos na dispensa. – esperou até que a outra saísse e continuo falando. – Ela pediu desculpas pela bagunça e foi embora.

- Não disse nada?

- Não senhor. – sorriu e viu ele assentir virando para o quarto – A propósito, se me permite dizer, - continuou – muito bonita e educada.

- Bonita, educada, problema e no momento agora me odiando. – suspirou voltando para o quarto com o café.

Já havia bebido metade da xícara quando chegou no quarto, pegou o celular dele e o ligou, centenas de chamadas e mensagens, seu e-mail uma bagunça, milhares de e-mails. Abriu as cortinas e espremeu os olhos com o sol, o celular chamou duas vezes.

- Charlotte. – disse ao telefone – Cancela todos os meus compromissos para manhã e início da tarde. – pediu seguindo par ao banheiro – Não interessa se o cara veio do Egito, China, Japão, Austrália, ou se apenas atravessou a rua, cancela e remarca. – desligou o celular e logo o colocou de volta no ouvido, dessa vez apenas chamou até cair.

Desistiu e tomou um banho demorado sentindo pontos do corpo arderem, de frente ao espelho conseguiu finalmente avaliar os estragos do fim de semana, os lábios inchados, marcas quase roxas no pescoço e marcas de unha nos braços, peito, abdômen, ombros e costas não faltavam. Vestiu a calça social, o sapato, uma camisa branca e um blazer ignorando a gravata, reuniu as lembranças delas, pegou a xicara de café agora pela metade e foi para o escritório, sentado em sua cadeira ele fitou o notebook inquieto.