quarante.

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É estranho pensar que antes dos 30 uma pessoa pode passar por tanta coisa, perder pessoas, ter três graduações, uma vida amorosa que pode se restringir à palavra LIXO, ter sonhos e ideias controladas, pessoas te seguindo "zelando" por sua segurança, fotos e mais fotos, revistas comentando sobre seu peso, cor do seu cabelo, se está hidratado ou não, o valor ou o estilista de suas roupas, criando guerras inexistentes entre você e seus irmãos por uma resposta que todos já sabiam qual era, quem assumiria os negócios da família? Quem administraria a maior e mais luxuosa rede de hotéis do país? Ser uma Pompeo era cansativo, chato, restritivo.

Antes dos 30 Ellen já era graduada em Direito e Administração, aos olhos do pai, e em paralelo graduada em Dança, escondida do pai. Era a favorita para assumir os negócios, a única filha no meio de dois homens, loira, olhos verdes, inteligente, boas intuições para o negócio, estratégica, ágil e incrivelmente talentosa para a dança, delicada, dedicada, paciente, determinada. Depois de um dia turbulento, dançar era tudo o que ela queria, mais do que isso, ela queria que os dias dela fossem apenas de música e dança.

Aos 14 quando ainda fazia ballet como atividade extra sentiu que era aquilo que queria fazer pelo resto da vida, e havia apenas uma pessoa que a apoiava.

- Sabe mãe, acho que vou largar a aula de português e aumentar as aulas de ballet. - tomou seu suco enquanto acompanhava a mãe em um almoço. - Acho que levo jeito para a coisa.

- É obvio que você leva jeito. - riu - Acho que você deveria conversar com seu pai primeiro, antes de largar a aula de idiomas.

- Ta doida? Nunca que ele vai deixar, ele vai surtar, gritar, e é capaz de me tirar da aula de ballet e me enfiar em um curso de financeiro. - rolou os olhos.

- Ele está pensando no seu futuro.

- Mas o futuro é meu, faço o que eu quiser. - deu de ombros - Mãe, eu não quero essa vida, - choramingou - eu quero dançar, por favor me ajuda.

- Não posso esconder do seu pai esse tipo de coisa Ellen. - suspirou.

- Não precisa esconder, se ele não perguntar então nada mudou, se ele não sabe do problema...

- O problema não existe. - as duas falaram juntas e riram.

- Vai mãe por favor, você sabe que eu sou muito melhor dançando do que falando outra língua. - suplicou.

- Tudo bem, se é o que você quer, tudo bem. - cedeu.

- Por isso que eu te amo. - levantou animada abraçando a mãe - Obrigada por sempre me apoiar. Eu te amo.

E é obvio que algumas semanas depois o pai descobriu, houveram gritos, surtos, mas como sempre, a mãe de Ellen o acalmou, alegou que era apenas uma fase adolescente, que logo passaria.

Aos 18 foram que as coisas começaram a se encaminhar para o pior, durante a faculdade de direito, Ellen assistiu sua mãe definhar aos poucos, vitima de câncer, não houve dinheiro no mundo que pudesse salvá-la.

- Hora de ir para casa. - Ellen disse animada ajudando a mãe a retirar aquela roupa de hospital e vestir suas peças de roupas caras.

- Oh querida, nem me fale. - riu - Não aguento mais esse lugar. E seu pai?

- Acompanhando a construção do novo hotel. - ajeitou a blusa dela partindo então para os sapatos. - Estará em casa para o jantar.

- Hum, sabe o que seria ótimo para hoje? - calçou o mocassim baixo - Uma massa alho e óleo com camarões salteados, acompanhado de um vinho rosé. - disse e Ellen riu alto.

- Com o tanto de medicamento que a mocinha está tomando, acho que álcool não seria a melhor das ideias. - a ajudou a sentar na cadeira de rodas com a ajuda de um enfermeiro.

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