Capítulo 37 - Kaayra

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Atirei as facas de gelo contra os dois e Yaga, por reflexo, desviou se enfiando nas sombras e foi para a direita, enquanto o anjo branco ficou no lugar e tentou desviar o curso das facas, mas só conseguiu ser atingido nas asas e sofrendo de dores enormes, assim como causou a mim. Aquilo foi satisfatório e me fez sorrir um pouco apesar da raiva que eu sentia dele.
Não me importo se eu não conhecia meu pai a tanto tempo, mas aquele desgraçado branco iria pagar pelo o que fez. E não ia sair nada barato.
Comecei a tirar facas do cinto e arremessa-las direto no anjo, aquelas ele não conseguiria desviar o curso, então vi ele desviar e aproveitei para ir me aproximando.

Samazel: você... é uma... criança... insolente!

Desviei de estacas de gelo que ele lançava em mim e finalmente cheguei perto o suficiente para empunhar minha espada. Tirei ela da bainha e tentei desferir um golpe no rosto dele, infelizmente ele parou o golpe criando uma lâmina de gelo saindo da mão dele.

Samazel: acha que pode me vencer? Você é só uma semi-anjo qualquer! Jamais poderia me vencer!
Kaayra: creio que você esqueceu que eu tenho o sangue de um Querubim...

Chutei ele na barriga, o afastando, e voei para cima dele, desferi um golpe no braço dele e consegui desconcentra-lo, mas Samazel fez pedaços de gelo saírem do chão e realizar grandes cortes em meu corpo. Aquilo doía muito, mas não chegava perto da dor que senti quando minhas asas apareceram.

Kaayra: só isso que pode fazer? Você é fraco... me traz nojo.

Sorri de forma extremamente maldosa e chutei-o no tronco. No olhar dele estava representado o início de medo.

Samazel: você pode ter sangue de Querubim, mas eu tenho total controle sobre a água e o gelo. Eu sou superior a você.
Kaayra: acha que tenho medo de você? Acho que não percebeu o que eu fiz uns instantes atrás...
Samazel: não ligo para o que fez, aquilo foi impossível! Só paramos por... por medo do seu grito! Você não fez nada de mais!

Das mãos de Samazel surgiram duas lâminas de gelo longas. Ele começou a me atacar rapidamente e eu me defendia da melhor maneira que conseguia, mas ainda era atingida por uma das lâminas. Comecei a me enfurecer aos poucos, ouvia a conversa de cada um ali e via que a situação estava tensa para todo mundo.
Samazel aproveitou minha curta distração e fez com corte de atravessado em meu corpo, por sorte o corte pegou um pouco de raspão e só me provocou dor. Agora minha camisa do acampamento estava regada e com um pouco de sangue.

Samazel: desista criança.
Kaayra: fui treinada pra acabar com a raça de gente como você, não me mande desistir.

Estávamos os dois em pleno voo já e lutando, isso foi meio burrice de minha parte já que havia feito poucas lutas em voo e não estava acostumada a realizar aquilo, então ele estava na vantagem.

Samazel: se eu fosse você, mandava seus amiguinhos ali desistirem de soltar Ablon com fogo.
Kaayra: além de irritante é maluco. *acerto a espada no abdômen dele*
Samazel: *desvio um pouco, ficando com um corte meio superficial* você que está sendo louca. O gelo que prende seu querido papai só pode descongelar com a minha morte.

Isso explicava a dificuldade que tínhamos para quebrar aquele negócio, mas agora eu já tinha ideia do que fazer.

Kaayra: *sorrio de forma maldosa* então sua morte causa o descongelamento daquilo?
Samazel: minha morte é algo impossível, criança. Meu coração é congelado, jamais poderá me matar!
Kaayra: se eu fosse você...não teria tanta certeza.

Chutei-o na barriga e aproveitei a distração dele para começar a me concentrar em descongelar o gelo dele. Ele avançou para cima de mim e começou a tentar realizar cortes em meu corpo, deixei que ele acertasse os cortes mas apenas de raspão. Após um tempo consegui descongelar as lâminas dele e comecei a me concentrar na água e gelo dentro do corpo dele. Ele começou a desferir diversos socos em mim, pelo visto ele não percebia o que eu estava fazendo. Eu soltava inúmeros xingamentos de dor, apenas para deixar minha atuação mais realista.

Samazel: o que foi? Já está cansada? Você é fraca!!

Ouvi meu pai e Urakin comentarem as seguintes coisas:

Urakin: o que ela está fazendo? Por que está deixando que a acerte?
Ablon: ela deve ter um plano, ela foi treinada não?
Urakin: sim, foi
Ablon: então ela sabe o que está fazendo.

Sim, eu sabia exatamente o que tinha que fazer. Após um tempo senti o gelo no corpo dele sendo descongelado e sabia que ele poderia descobrir em breve o que eu fiz, então fui mais rápida que a percepção dele. Chutei a barriga dele com o máximo de força possível o fazendo ir para cima, voei para um pouco acima dele e o soquei na coluna, o enviando para o solo.
Ele caiu com um baque seco. Segurei a espada com força e desci pro solo.
Ele se virou de frete para mim e pisei na barriga dele, o prendendo no chão. O olhar dele era de pavor puro.

Samazel: como você...? Você não pode me matar! Jamais conseguirá!
Kaayra: que tal você notar melhor o seu coração?

Ele começou a balbuciar algo, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, finquei a espada com tudo no coração dele. Samazel soltou seu último grito antes da morte, um grito ensurdecedor de pura dor, agonia e terror. Olhei para ele, esperando morrer de vez. Ouvi Arthur gritando para Helena parar e depois ouvi ele gritando o nome dela.
Quando olhei para ver o que ocorria, vi, em câmera lenta para mim, Helena caindo no chão, com a ponta de uma lança presa ao corpo dela. Senti a fúria tomar conta de mim, o corpo sob meus pés explodir num misto de sangue e um negócio pastoso branco. Voei rapidamente para Helena e a segurei no colo. Ouvi meu pai quebrando o gelo e saindo do altar, mas não me importava mais com isso. Tudo que eu tinha que fazer era conter o sangue de Helena para não sair do corpo dela, mas isso era complicado na situação de fúria que me encontrava. Helena ainda estava consciente, mas olhava para um ponto acima de mim.

Hazel: os olhos da Kay... *assustada*
Arthur: parecem de um... felino com sua presa.
Ablon: Kaayra, espere!

Ignorei eles e saí voando o mais rápido possível em busca de algum rio ou qualquer fonte de água. Ouvia duas pessoas correndo atrás de mim, tentando me alcançar. Usava todo o autocontrole que me restava para conter o sangue de Helena no corpo dela. Cheguei no rio perto de onde estava o Dieu-le-Veut. Entrei no rio com ela no colo, tirei a ponta da lança dela e comecei a me concentrar.

Um Milagre Entre SemideusesOnde histórias criam vida. Descubra agora