🔸🔶Capítulo 22 - Oca🔶🔸

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Oi, amores. Como estão?
Gostaria de avisar que a duologia agora conta com uma Playlist no Spotify recheada com as músicas que me inspiraram em "Ainda Temos Uma Segunda Chance" e "Lágrimas de Vidro". Para acessar basta procurar por "Duologia Em Busca da Felicidade" na plataforma de músicas. Não se esqueçam de curtir a playlist, que foi montada com muito carinho.
Boa leitura!

.💙.

Deitado no silêncio
Esperando pelas sirenes
Sinais, quaisquer sinais de que ainda estou vivo
Eu não quero enlouquecer

Train Wreck - James Arthur

— No que está pensando?

Mário está tenso. Os dedos apertam o volante. Sinto seus olhos em mim, mas apenas encaro suas mãos.
E me faço a mesma pergunta: como eu estou?

— Por favor — ele sussurra — Me diga no que está pensando.

— Acho que não estou pensando — minha voz sai rouca.

Apenas alguns poucos segundos separam minha fala das próximas palavras de Mário.

— O que pretende fazer?

Mais alguns segundos de silêncio.

— Vai voltar para casa? — dessa vez, Mário sussurra.

E lá está: a incerteza. Entretanto, meu cérebro deturpado sobrepõe com nuvens qualquer sensação que isso possa gerar.

— Por favor, Luna, preciso saber o que pretende fazer — Mário implora.

Ele espera ouvir minha voz, aguarda enquanto pareço pensar.
Mas eu tombo a cabeça para o lado, encostando na janela do carro. O vidro faz um som oco, mas não me importo com a dor que isso possa provocar em meu crânio.
Por alguns segundos, apenas penso em como era melhor enquanto eu estava chorando.
Enquanto estava desabando.
Enquanto conseguia suprimir o vazio com a dor.
Mas tudo o que sinto agora parece tão oco quanto o som da minha cabeça na janela.

— Preciso falar com ela — sussurro simplesmente, mas Mário parece entender — Por favor, ainda temos alguns minutos de viagem. Apenas por favor... — fecho os olhos.

Mário não diz mais nada.
Seguimos.
Conto as vezes em que minha cabeça bate no vidro do carro ao passar por pedaços informes  do asfalto e aguardo, orando com a parte vazia do meu peito para que a estrada, de alguma forma, se alongue mais conforme os quilômetros se sucedem.

Quando Mário para o carro em frente à minha casa, já passam das 9 da manhã.
Abro a porta do carro e saio. O céu está nublado, absurdamente branco, e castiga os meus olhos, que sequer posso imaginar quão horríveis estão.
Em alguns segundos, Mário está ao meu lado. Hesita ao refletir se deve ou não me tocar.
Sequer sei como me mantenho de pé. Sequer sei qual é o próximo passo. Torço para que ele não me pergunte, que não questione o que pretendo fazer.
Por fim, Mário toca meu braço.
Seu toque é quente, ou talvez minha pele pareça estar fria demais.

— Estarei bem ao seu lado, Passion — ele sussurra — Sempre vou estar. Tudo bem?

Pela primeira vez desde que saímos daquela casa, olho nos olhos de Mário.
Meus olhos ardem como o inferno, mas me recuso a desviar.
Eu o olho como se minha vida dependesse disso.
Porque talvez dependa. Porque as coisas parecem fazer um pouco mais de sentido quando vejo dor no verde translúcido de seus olhos... E uma parte em mim, mesmo que pareça egoísta, fica grata por ele sentir algo.
Sentir é infinitamente melhor do que estar anestesiado. Infinitamente mais saudável do que pensar que seu coração deveria estar em frangalhos, mas você simplesmente não pode senti-lo.
De alguma forma, sinto que ele pode passar por isso sem se quebrar, sem acabar totalmente aniquilado, por mais dor que tenho certeza de que sentirá se o pior acontecer, seja qual for este pior.
Enquanto isso, sinto que eu, que encaro tudo com apatia nesse momento, que já não consigo sentir os músculos de meu rosto e já não jorro lágrimas, embora devesse, talvez não sobreviva.

Lágrimas De Vidro - LIVRO 2 - Duologia Em Busca Da FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora