🔸️🔶️Capítulo 13 - Afeto🔶️🔸️

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Meus sentimentos estão ficando mais profundos
Minha mente está em queda livre
Mas não há nada que eu possa fazer com relação a você
Você brinca com as minhas emoções

My Oasis - Sam Smith (feat. Burna Boy)

O jantar acabou já faz algum tempo; Guilherme foi embora e todos os outros já estão em seus devidos quartos

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O jantar acabou já faz algum tempo; Guilherme foi embora e todos os outros já estão em seus devidos quartos. Isabela está dormindo, e eu também deveria estar, mas continuo encarando o teto, refletindo. Na verdade, tentando refletir, porque não há como o fazer quando não se tem ideia de por onde começar a organizar seus pensamentos.
O dia com Mário, a presença dele e a forma como o enxergo inundam minha mente. Sinto que se tornou impossível não pensar nisso no momento.
Minha cabeça está pesada, o cansaço gerado pelo dia intenso tentando me esmagar e me levar para longe, mas a agitação me mantém exatamente onde estou: no impasse entre acreditar que estar ao lado de Mário está mais suportável pelo ambiente feliz ou porque a mágoa diminuiu tanto que olhá-lo não dói mais. Depois do jantar, sinto que preciso entender essa coisa, que venho tentando ignorar. Eu não conseguiria me enganar por muito tempo se, no fundo, tivesse certeza da última opção. O problema é que olhar para Mário ainda dói, mas não da mesma forma. A falta de ar dói, o sorriso dele dói, mas, ao me recordar de nosso reencontro, meses atrás, vejo que a dor não é a mesma. Lembro-me perfeitamente do dia em que o vi descer as escadas em direção a mim, quando descobri que havia sido ele a me enviar rosas durante semanas, e minha pele ainda se arrepia ao perceber que me recordo daquilo como se estivesse acontecendo nesse exato momento; eu sentia como se meus pulmões, meu coração e tudo o mais em mim fosse pisoteado, esmagado e estilhaçado pela volta dele. No quarto de hospital, depois do meu acidente de carro, a sensação não foi muito diferente. Eu senti tanta raiva... Toda a mágoa acumulada emergiu e eu achei que não poderia suportar. Tive tanto ódio que sequer pude acreditar nas palavras que saíam da boca de Mário; foi um dos momentos mais absurdos e dolorosos de toda a minha vida.
E então mais um hiato. 6 meses abrandaram a raiva, mas ela ainda estava presente. A notícia das cartas bagunçaram minhas estruturas, e quando o vi mais uma vez a sensação não foi tão divergente à das duas últimas vezes.
Mas então eu li as cartas, e de alguma forma eu sabia que aquilo mudaria tudo desde o momento em que li o vocativo da carta número 1. Ele era quase inocente, e o meu encontro com ele após essa revelação foi como um furacão. Tenho consciência de que algo mudou ali, mas busco mais a fundo a origem do sentimento que não poderia ter aparecido simplesmente do nada. Reviso os últimos dias que passei com Mário, sobretudo a sensação de confiança quando demos o primeiro passo em nossa busca, de mãos dadas, e solto um suspiro ao mesmo tempo em que perco o ar quando me dou conta do que está acontecendo — e do quanto fui burra até agora. Por mais que eu tente negar, há afeto. Um afeto que nem a raiva foi capaz de destruir, e que acredito ser algum resquício do que senti um dia por ele. Do que não posso mais sentir.

Viro-me de lado na cama, enterrando ainda mais a cabeça no travesseiro enquanto sinto a pressão em minha testa aumentar pelo cansaço. Fecho os olhos, porque a programação para amanhã é tão extensa quanto a de hoje, mas desisto quando o silêncio apenas me deixa mais agitada.
Levanto-me da cama, com cuidado para não acordar Isabela, e pego meu celular e o roupão no criado mudo.
Pelo corredor, caminho com cuidado até a derradeira porta de vidro, a qual Julie disse que levava à sacada do segundo andar, e abro-a sem fazer barulho, apertando o roupão quando o vento frio da noite bate contra mim.
O silêncio agora parece mais calmante.
Encaro o mar, quase invisível na noite escura, até que a chuva começa a cair. É constante, mas as gotas de água são tão minúsculas que parecem pequeninos fragmentos de plumas tocando meu rosto, muito geladas.
Afasto-me apenas quando uma fina camada de água já se formou em meu rosto, e me encosto na parede ao lado da porta, respirando fundo. Por fim, pego o celular e procuro o número de Beatrice. Não deve passar das 3 da tarde em Chicago, e ela atende no segundo toque.

Lágrimas De Vidro - LIVRO 2 - Duologia Em Busca Da FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora