🔸🔶Capítulo 28 - Perdendo o controle🔶🔸

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Não quero perder o controle
Não posso fazer mais nada

Control - Zoe Wess

Só percebo o papel na mão de Mário quando ele o estende para mim. Quando ergo minha mão e agarro o papel, o efeito da anestesia aos poucos se dissipando, Mário não o solta.

— Essa foi a decisão mais difícil que tomei na minha vida — ele diz, a voz sombria, e puxo o papel com tanta força que acho que vou rasgá-lo, mas Mário só o solta por completo depois de pronunciar as últimas palavras: — As coisas não vão mais ser como antes, mas por favor, por favor, tente manter a calma.

Só percebo que minhas mãos estão tremendo quando meu cérebro luta para encaixar as letras da forma certa. Faço todo o esforço possível, pulando as partes desinteressantes do que parece ser um exame, e finalmente chegando à um pequeno texto entitulado "conclusão". Meus olhos correm pelas palavras, até uma frase que parece saltar do papel:
"... conclui-se que Mário Alonso Williams é o pai biológico de Dylan Sputinik Ferrero."

Demoro alguns instantes para assimilar a informação. Encaro Mário, mas antes que qualquer outra coisa se passe pela minha cabeça, ele aponta para o papel.

— Leia a outra página.

Viro a página, as mãos ainda malditamente tremendo, para encontrar um papel quase idêntico ao anterior, exceto uma pequena diferença na conclusão:
"...conclui-se que Luna Ames Dawson é mãe biológica de Dylan Sputinik Ferrero."

Quando olho para Mário, quando vejo o que acaba de acontecer ali, estampado no rosto dele, apenas espero o mundo desabar sob meus pés. Mas o choque de realidade não vem tão facilmente.

— Essa foto estava no mural da ala infantil. É o Dylan... Olhe para os olhos dele.

Pego a foto, meus dedos fracos demais, e o choque se sobrepõe a qualquer outra emoção: eu reconheceria aquele tom de jade em qualquer lugar.

— Quando pegamos os documentos dele, você não percebeu... Mas eu acabei olhando a data de nascimento. Ele nasceu meses antes do que deveria, mesmo que ela estivesse no início da gravidez quando toda aquela armação ocorreu... E o dia. Ele nasceu no mesmo dia daquela merda. Não era possível... — Mário passa a mão pelos cabelos — Era impossível. Mas é óbvio que eu não iria te dizer coisas vagas, você já estava passando por pressão demais. Então eu decidi fazer os testes... Peguei um fio do seu cabelo, um do meu e saliva dele. Foi... Fácil. Fácil demais pra uma coisa tão absurda, tão... Cruel.

Tudo parece bizarro demais, de repente demais, então uma dúvida se planta em minha cabeça: quanto tempo leva pra um teste de DNA ficar pronto?

— Isso foi antes ou depois do transplante? — pergunto, minha voz ainda rouca pelo tempo desacordada.

— Antes — Mário responde, sem hesitar.

— Fez tudo escondido por todo esse tempo? — pergunto, impassível. Mário já desconfiava de tudo... Enquanto eu comemorava o milagre de ser compatível com Dylan, enquanto via isso como um sinal do universo, como piedade depois de anos impiedosos, Mário sabia que aquilo não era apenas uma coincidência.

A boca de Mário se contrai, e vejo as lágrimas voltando ao seus olhos. Não parece arrependido... Apenas triste. Irreversivelmente triste.

— Ele é nosso filho.

Me encolho diante das palavras. Ouvir elas saírem da boca de Mário é como um tapa na cara.
Sinto a raiva no fundo do meu estômago. Como ele pode chegar dizendo isso? Como pode sequer acreditar que isso possa ser real?

Lágrimas De Vidro - LIVRO 2 - Duologia Em Busca Da FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora