🔸🔶Capítulo 24 - Garoto🔶🔸

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Você já se encontrou
Surdo por todas as vozes
Você já se encontrou
Perdido em pensamentos
Como se ninguém pudesse tirá-los?

Thirteen - Ana Sevá

Não confio em minhas próprias pernas.
Cambaleio para o lado, mas Mário agarra minha mão.

— Não. Toque. Em. Nada. — ele diz as palavras entredentes, o frieza tentando se sobrepor ao desespero.

Há sangue por todos os lados.
Sangue no piso branco.
Sangue vermelho.
Muito, muito sangue.

Tento, com todas as minha forças, ser racional.
Os pedaços do meu coração se reviram em meu bolso, mas se recusam a voltar ao seu lugar.

Eu não sinto. Agarro-me a isso da forma que posso.

O que fazer agora?

Olho para o peito dela. Engulo o nó em minha garganta, o formigamento em todo o meu rosto.

Chego um passo mais perto.

— O que está fazendo? — Mário pergunta, como se não me reconhece.

— Está viva — sussurro. O peito dela sobe e desce, embora mais fraco do que deveria.

Me aproximo mais um passo.

— Luna... — Mário sussurra, mas estou olhando para a mulher.

Depois de tudo o que aconteceu, não imaginei que iria desejar com todas as minhas forças que ela não morresse na minha frente.

Conforme me aproximo mais um passo, ela abre os olhos.
Mesmo de longe, posso ver os pequenos pontos vermelhos por toda a parte que deveria estar imaculadamente branca nos olhos dela. Algo pressiona meu estômago, todas as entranhas que se apertam ao redor do vazio em meu peito.
Ela olha para mim, mas não se move.
Está paralisada. Olha em meus olhos. Mesmo quando não tenho reação, ela não desvia o olhar.
Sinto que há tanto ali. Muito mais do que há em mim mesma nesse momento.
Seus lábios tremem, sinto que quer dizer mais do que é capaz. Por um momento, somos apenas nós duas.
Acho que Mário, em algum lugar nessa cozinha, está chamando pelo meu nome... Mas não consigo desviar meus olhos dela, não consigo parar de encarar as íris castanhas que aprendi a odiar mas, que nesse momento...
Algo se agita em meu interior com a esperança de que nem tudo em mim esteja perdido. Mas mesmo essa sensação é efêmera diante da cena em que me vejo.
De alguma forma, posso sentir a dor dela... Mas não é a dor física.
Percebo que Mariah destruiu a minha vida, mas destruiu a dela junto.

A pressão em minhas entranhas se torna insuportável. Água se acumula nos meus olhos, cedendo.
Uma reação inconsciente.

— Dylan... — ela sussurra, seus lábios estão fracos demais — Não deixe... Não deixe que o levem... Os remédios estão no criado mudo...

As lágrimas agora se misturam ao sangue que já coagula em suas bochechas.
Ela soluça, geme com a dor, e soluça mais uma vez.
Mas isso dura muito pouco. Ela perde as forças, sequer consegue fechar seus olhos.

— Não sou nenhuma médica, mas acho que não deveria falar — me apresso em dizer, agoniada pelo sangue que pinga do pescoço para o seu colo, imundando o chão ao seu redor. Sequer posso ver a cor original de sua blusa.

Ela ainda me olha, imóvel.
E, naquele momento, sei que falar ou deixar de fazê-lo não representará diferença nenhuma.
Ela me olha como se fosse a última vez.
Trinco meus dentes. Porque, por mais que eu tenha sentido meu peito se rasgar ao meio com as palavras dela a apenas 1 dia atrás, nunca pensei que olhar em seus olhos fosse doer tanto em minha pele como agora.

Lágrimas De Vidro - LIVRO 2 - Duologia Em Busca Da FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora