Tarde demais para canções de ninar
Muito cedo para estar tudo bem
Às vezes, o amor tem seu preçoToo Late For Lullabies - James Morrison
Estou deitada no peito de Mário, o cabelo ainda úmido, quando o telefone toca.
— Não vai atender? — pergunto, depositando um beijo em sua clavícula. Ele bufa, e eu sorrio.
Mesmo contra sua vontade, Mário estica o braço até alcançar o celular no criado mudo. Ele atende o aparelho, mas apenas escuta por alguns segundos. Sua expressão muda, os olhos arregalados. Ergo minha cabeça, sem entender a mudança.
— Claro. Claro que ela ainda quer. Estamos saindo agora mesmo, não demoraremos... — Mário diz, apressado, se erguendo da cama e desvencilhando os braços de mim.
Ele desliga o aparelho, colocando-o de volta no pequeno móvel e jogando as cobertas longe.
— O que aconteceu? — pergunto, confusa. Mas não esperava ver o sorriso que cresce no rosto dele.
— Você é compatível — ele diz, me encarando, alegria genuína tomando seu rosto.
Perco o ar... É bom demais pra ser verdade. Em meio ao caos, é tudo bom demais.
Jogo as cobertas pra longe também, correndo até Mário. Entrelaço minhas pernas na sua cintura dele enquanto rio. Ele me beija, mas não dura muito. Mário me coloca no chão novamente.— Eles pediram pra ir o mais rápido possível — diz pra mim, e concordo com a cabeça.
Tudo é realmente muito rápido. Vestimos nossas roupas e sequer perco tempo secando o cabelo. Em poucos minutos estamos no hospital. Recebo instruções e uma camisola de hospital para me trocar. Minhas mãos tremem enquanto visto a peça. O médico de Dylan dá mais algumas instruções e explica um pouco sobre o procedimento em si, que é considerado simples. Precisarei ficar internada por algumas horas antes do transplante, mas nada demais.
Pergunto se posso ver o garoto enquanto aguardo. Ele concorda, pedindo para que uma enfermeira acompanhe a mim e Mário. Não podemos entrar no quarto, mas podemos observar por uma grande janela de vidro que dá para o corredor.Meu coração se aperta, mesmo que eu não deixe isso transparecer. Há tantos fios ligados ao pequeno garoto que é desumano. É desumano que uma criança dessa idade tenha que passar por tudo isso... Cruel.
Mário agarra minha mão, por pressentir meu enjoo nesse momento ou por estar se sentindo da mesma forma, mas não tiramos nossos olhos da criança à nossa frente.Guardo as lágrimas que insistem em tomar meus olhos. Levo a mão ao peito, afagando as amarras que parecem cruzar o espaço.
Tudo isso... Tudo só pode ser um sinal.
Se algo acontecer a esse garoto...Parece insensata a forma como me sinto nesse momento. Um garoto com quem não conversei, com quem tive contato por apenas alguns momentos, que não deveria mexer com meus sentimentos da forma como mexe desde que o vi naquele quarto, na manhã que parece ter sido há séculos atrás. Mas isso foge da compreensão... Sentir é tudo o que faço nesse momento, enquanto os cacos do meu coração ainda se agitam, sem força para se fundirem.
Não sei quanto tempo se passa comigo e Mário de pé ali, mas vejo o médico mexer na medicação intravenosa algumas vezes até uma enfermeira pedir gentilmente que nos retiremos, para que eu possa descansar antes do transplante. Olho para Dylan mais uma vez. Meus dedos estremecem apenas um pouco quando toco o vidro e me viro para voltar ao meu quarto.
Me dirijo direto ao banheiro do quarto, praticamente obrigando Mário a sair por um momento para comer alguma coisa, já que faz muito tempo desde nossa última refeição.
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Lágrimas De Vidro - LIVRO 2 - Duologia Em Busca Da Felicidade
ChickLitLuna jurou vingança e, apesar dos olhos bondosos, ela é implacável quando está diante de seus cacos. Após uma descoberta que mudou tudo em que acreditava, essa mulher lutará para fazer com que os responsáveis pelo desastre de sua vida paguem pelos a...