🔸️🔶️Capítulo 1 - Almas remendadas 🔶️🔸️

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Eu tinha esperança de que você veria meu rosto
E que você se lembraria
De que pra mim não acabou

Someone Like You - Adele

Desdobro lentamente o papel

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Desdobro lentamente o papel. Estou tremendo, meu rosto pinicando pelas lágrimas e meu coração palpitando tão alto que posso ouvir o sangue pulsando em meus ouvidos.
Quando abro o papel, caminhando de um lado para outro em ansiedade e desespero, apenas sinto o peso do meu corpo esmagar meus joelhos no chão.
Passo o dedo pelos traços que tanto observei anos atrás, me recordando de cada parte que amei naquele desenho. Ao perceber a nostalgia, ao sentir falta dos tempos que não eram tão difíceis, me encolho e me estapeio internamente.
Sinto minha garganta seca, meus olhos ardendo, meu estômago inteiro revirado pela náusea, mas mesmo assim grito.
Grito porque dói, porque machuca. Nunca pensei que palavras podessem doer e machucar tanto.
Grito porque não suporto mais. Porque é coisa demais, porque foram 96 cartas lidas de uma só vez. Foram dois anos de dor revirados em uma semana.
Grito porque me sinto fraca, as barreiras que tentei erguer desmoronando depois de serem bombardeadas por palavras escritas.
Palavras que eu sei serem verdade.
Grito pela mancha na parede, pelas lágrimas inúteis, pelo itinerário da dor. Grito pelo tempo romantizado que não cura a perda de um filho, pelos pesadelos e dificuldade para dormir, pela dor de relembrar primeiros encontros.
Grito pelos dois anos em que flutuei no espaço me apegando às duas únicas coisas que faziam sentido: Isabela e meu emprego. Por Mário não ter encontrado nada que fizesse sentido para ele.
Grito porque a dor em minha garganta não é nada em comparação à minha alma sendo rasgada dessa forma. Mais uma vez, sem piedade. Porque sei que isso é apenas a ponta do iceberg. Porque sei que daqui para frente terei que passar por mais dor do que já aguentei.
Grito porque é injusto que nada em minha vida seja sólido.
Porque me roubaram a minha vida.

— Luna! Meu Deus, Luna! O que aconteceu?

Os gritos de Isabela ecoam na minha cabeça, mas não tenho forças para me erguer. Permaneço na mesma posição, encolhida de lado com a cabeça entre os joelhos. O grito se tranforma em um ruído de dor, de agonia. De uma mãe que perdeu o filho.
Sinto como se tivessem atravessado uma barra de aço pelas minhas costas, porque a dor é tanta que não se detém ao interior. Ela queima por fora, destrói todas as minhas estruturas.
O ruído de minha garganta é agudo em meio aos soluços engasgados, e sinto Isabela pegar minha cabeça do chão e lutar para colocá-la em seu colo. Sem força alguma, minhas pernas continuam jogadas no chão enquanto ela me embala devagar.

— Ah, Luna... — ela murmura às vezes, enquanto permaneço pelo que parece horas em seu colo.

Não sei quanto tempo demora até que quarto fique silencioso e o ruído de minha garganta cesse. As lágrimas ainda caem e os tremores não cessaram, mas o desespero de não saber mais o que foi a minha vida me obriga a despejar tudo.

Lágrimas De Vidro - LIVRO 2 - Duologia Em Busca Da FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora