🔸️🔶️Capítulo 2 - Até o inferno🔶️🔸️

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Eu tenho que seguir em frente
Mas dói tentar

Dancing With Your Ghost - Sasha Sloan

Não sei ao certo quanto tempo se passou, mas sei que a dor insiste em não amenizar conforme os infindáveis minutos se sucedem

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Não sei ao certo quanto tempo se passou, mas sei que a dor insiste em não amenizar conforme os infindáveis minutos se sucedem.
Minha perna já está dormente e o ombro de Mário deve estar doendo, mas nenhum de nós dois faz menção em mudar de posição.
O aperto em minha garganta provocado pelas palavras retidas me incomoda. Sinto que ainda há tanto para dizer, e sinceramente não sei se algum dia essa sensação vai passar.

— Você também quis jogar o desenho fora... — murmuro, a voz ainda fraca pelo choro que cessou à pouco, e não foi uma pergunta.

— Que desenho? — Mário também quase sussurra, como se uma pequena palavra dita em tom mais alto pudesse rasgar a nós dois.

Respiro fundo, tentando recuperar as forças que perdi no decorrer de todo esse dia esmagador.

— O desenho da casa. — explico, e o sinto respirar fundo também.

Quando completamos 1 ano de namoro, Mário me deu a planta detalhada de uma casa como presente. Ele pediu para que um amigo arquiteto dele fizesse o desenho, e cada pequeno detalhe foi pensado por ele tendo os nossos gostos em mente. Eu ainda não havia recebido a notícia de que estava grávida, mas Mário já planejava todo o nosso futuro, juntos. Ele disse que quando fosse o momento aquela seria a nossa casa, e que a construiríamos à nossa medida.
O desenho estava no fundo do saco com as cartas, o que me leva à conclusão de que o jogou fora.
Tudo isso faz com que meu peito seja esmagado mais uma vez. Essa planta representou tanto para nós no passado que achá-la jogada em meio às cartas doeu, mesmo que eu saiba que não deveria sentir isso.

— Junto com a primeira carta. — Mário diz, a voz ainda baixa e rouca — Foi o momento em que eu me forcei a aceitar que as coisas não seriam como antes, e que todos os planos que fizemos não iriam mais se concretizar. O momento em que eu tentei me fazer acreditar que tinha te perdido. A casa fazia parte dos sonhos, então joguei o desenho fora como uma forma de mostrar para mim mesmo que eu havia jogado tudo no lixo por não ter te explicado enquanto havia tempo.

Balanço minha cabeça minimamente, sentindo o peso daquelas palavras em minha alma.

— Enquanto ainda havia 3 segundos... — sussurro, tão baixo que não sei se ele conseguiu ouvir. Por dois anos, Mário acreditou que jogar fora tudo aquilo iria de alguma forma o convencer de que não me procurar era a coisa certa a se fazer.

A sala mergulha novamente em um falso silêncio, enquanto sei que tanto a minha mente quanto a de Mário gritam com a realidade que nos esmaga.
Ambos estamos pensando em como as coisas eram mais simples, em como o passado é tão mais agradável, mas enquanto caminhamos pelas lembranças ainda tropeçamos no agora. E o agora é apenas a dor.

Lágrimas De Vidro - LIVRO 2 - Duologia Em Busca Da FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora