🔸🔶Capítulo 15 - Natal (Parte II)🔶🔸

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Passado algum tempo, é claro que as crianças não iriam mais querer ficar sentadas assistindo à TV.
Anna corre pela sala, brincando de se esconder e achar com a irmã mais nova; a pequena Elena mal consegue se manter de pé com suas risadas. Alice, filha de Edith, com a mesma idade de Elena, também participa da brincadeira, mas não com tanta animação quanto a filha de Kate. A pequena Claire descansa no colo de Edith, em um sono sereno, e Kate precisa repreender a filha mais vezes que o convencional para que a garotinha de apenas 2 meses não acorde.
Ademais, da mesma forma que é impossível que crianças se mantenham quietas durante muito tempo, é também impossível que esse fato, mesmo óbvio, não seja comentado pelas demais pessoas que estão no ambiente, e em meio a tantas mulheres o assunto maternidade uma hora ou outra vem a tona.

— Foi um choque para mim — Edith diz, quando é perguntada sobre como descobriu a gravidez — Eu tomava anticoncepcional, e estava apenas esperando a menopausa chegar. Tinha 40 anos, uma filha com menos de 2 anos, que planejei como meu último filho. Marcel já estava com a vida encaminhada, e eu nunca me imaginei tendo que criar mais duas crianças pequenas — Edith balança a cabeça — A primeira coisa que pensei, foi que iria tirar. Poderia vir aqui para a Espanha, aqui o aborto é legalizado. Não me envergonho de ter pensando nisso. Um filho simplesmente não se encaixava na minha vida — Ela conclui. Isabela me olha, por algum motivo receosa de que aquilo pudesse me afetar de alguma forma. Não afeta; o fato de eu não poder ser mãe não me faz ter o desejo de impor isso a outras mulheres.

— O que a fez mudar de ideia? — Meghan pergunta, sentada ao lado de Amanda. Edith suspira, depois sorri.

— Lúcio — ela diz — Ele estava tão assustado... Mas parecia feliz quando descobri, e igualmente desolado quando eu disse que não queria ter a criança. Isso não significa que ele não me apoiou no que eu acreditava ser minha decisão, sabia que eu tinha o direito de escolher, mas vi nele o quanto aquilo doía. Após pensar um pouco, decidi mudar de ideia. E até agora ainda estou me adaptando a ideia te ter 3 filhos... Mas estou feliz. Toda vez que olho para ela, me sinto mais completa ainda. É engraçado, na verdade — ela olha para a garotinha que dorme em seus braços, e sorri. E quando ela sorri, meu peito dói.

Não é uma dor egoísta; está bem longe disso. É uma dor de nostalgia, causada pela lembrança de que um dia senti um pedaço da emoção que ela sente ao olhar para a filha. Todas as vezes em que olhava para a minha barriga e via que ali crescia uma vida...
Ao olhar para as meninas que correm pela sala, é impossível não pensar que era para haver um garoto ali. Um garoto de olhos verdes e cabelos castanhos, como Mário imaginava em seus sonhos.

— Há tantas garotas na família... Uma de nós deveria arrumar um garotinho — Kate diz, rindo, inconsciente da sua falta de tato. Edith ri, dizendo que aquilo está oficialmente fora de cogitação para ela.

No momento em que me viro para elas novamente, Kate ainda está olhando para as crianças. Quando nossos olhares se cruzam, ela percebe o que acabou de dizer. Vejo seu rosto empalidecer, e, logo após, corar a ponto de combinar com seu cabelo.
Desvio o olhar, e as outras mulheres na sala continuam a conversar, alheias ao que acontece neste canto. Não me arrisco a olhar para Isabela, que com certeza teve uma sensibilidade maior quanto às palavras que foram ditas.

— Sinto muito, Luna... Não foi minha intenção — Kate diz só para mim, a voz rouca pelo constrangimento ou pela pena, mas prefiro acreditar que o que ela sente se resume apenas a primeira opção. Balanço a cabeça.

— Tudo bem — digo, com sinceridade. Por mais que doa pensar que nesse momento era para o meu filho estar aqui, não há como culpá-los por terem se esquecido. Estavam envolvidas no assunto, e deslizes são inevitáveis.

Lágrimas De Vidro - LIVRO 2 - Duologia Em Busca Da FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora