🔸🔶Capítulo 32 - Conversando com o diabo🔶🔶

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Você conseguiu tudo que precisava?
Vantagem de mim e tudo mais
Foi tudo que você queria
Escolher o lado errado era certo

Crocodiles - Cian Ducrot

— Desde quando planeja aquilo? — pergunto, erguendo as sobrancelhas — Devo assumir que foi um plano quase perfeito.

Beatrice sorri ainda mais, o ego massageado.

— Me comprometo com tudo o que faço. Sabe disso — luto contra a vontade de vomitar ali mesmo.

Beatrice pensa apenas por alguns segundos antes de continuar, pegando o blush mais rosa que encontra e substituindo o sorriso por um biquinho.

— Não me aproximei de você com um objetivo. Era simplesmente uma mulher vendo uma bolsa horrorosa numa loja e franzindo o nariz. Te achei parecida comigo, por um momento — ela dá de ombros, mergulhando um pincel no pó rosado — Logo percebi o meu engano.

Ser parecida com ela? Prefiro a morte.

— Isso não te agradou? — questiono, controlando meu tom de voz, o nojo que sinto. Beatrice espalha o blush pela minha bochecha, com atenção, mas não hesita ao responder, como se estivéssemos fazendo confissões uma à outra.

— Eu estava animada com a possibilidade de ter uma nova amiga... Não faço amizades com facilidade — ela estala a língua — Mas o convívio com você pode ser absurdamente cansativo, Luna. Você sempre foi tão... Abnegada. Tinha um bom emprego, era rica... Tinha tudo, mas sempre colocava as outras pessoas antes de você. Não sei como teve capacidade para chegar onde chegou. Era tão perfeita, tão adorável, tão Luna. E todos a amavam por isso, como se você fosse uma santa por sempre colocar você mesma em segundo plano, por sempre querer fazer o politicamente aceitável. Quando eu fui capa de uma das malditas revistas mais famosas do país, foi a você que Pascoal dedicou o brinde da noite na festa de comemoração.

Luto para não deixar transparecer o quanto as palavras de Beatrice me afetam. Não por concordar com a definição dela de todas essas coisas como "defeitos", mas sim pelo fato de sentir a repulsa em seu tom de voz, como se nunca tivéssemos sido nada.
Engulo em seco.

— Percebeu isso antes ou depois de começar a trabalhar comigo?

— Antes. Comecei a trabalhar para tentar te entender... Fiz disso minha missão pessoal.

É a minha vez de sorrir, mesmo com dor de cabeça, mesmo com os tremores pelo corpo.

— Sou interessante a esse ponto? — questiono.

Beatrice retribui o sorriso, olhando, novamente e por apenas um segundo, em meus olhos.

— Muito pelo contrário — ela volta a se concentrar na quantidade de blush que está aplicando — É a pessoa mais ordinária que conheço. Mas era feliz, vivendo uma vida de meia-tigela. Isso me deixou com raiva.

Beatrice dá de ombros, se encostando na cadeira para avaliar meu rosto. Ela deixa o blush e o pincel de lado, mexendo na maleta até encontrar um rímel. Beatrice não me manda fechar os olhos — coisa que eu não iria fazer, sob circunstância alguma — apenas eleva meu queixo de forma a deixar os cílios mais acessíveis ao pequeno pincel.

— Não achava difícil fingir que me adorava também? — pergunto, focando todos os meus esforços em manter minha voz o mais neutra possível, mesmo que eu esteja morrendo por dentro.

— Me dava enjoos. Mas o que eu podia fazer? — Beatrice pergunta.

Não falamos mais nada enquanto ela termina com o rímel, logo o descartando também. Ela me encara por alguns segundos, mas mantenho meu olhar baixo, incapaz de olhá-la nos olhos.
Beatrice estende o espelho de mão à minha frente, e encaro meu reflexo por um instante. Minhas olheiras estão perfeitamente tapadas, e o tom pálido, disfarçado. Mas meus olhos continuam grandes demais, brilhantes demais.
Beatrice afasta o espelho até que meu reflexo suma, depois coloca uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha.

Lágrimas De Vidro - LIVRO 2 - Duologia Em Busca Da FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora