Ponto de partida

279 18 4
                                    

O barulho baixinho na sala, era provido das borbulhas da bomba do aquário imenso de peixes que havia ali. Existia um longo e pesado silêncio no ambiente. Enquanto estava sentado desconfortável, Naruto agarrou-se a uma das almofadas e apenas encarava os olhos verdes e bastante sérios de Mabui, que havia começado todo aquele discurso, revisando todas as suas anotações quanto ao "problema Uzumaki". Ela havia pedido para que ele começasse do início, mas ele ponderava exatamente onde era o tal início?

Franziu o cenho mais uma vez ao soltar o ar pelos lábios de forma um tanto monótona e viu a morena olhar no relógio de pulso.

—Senhor Uzumaki...

—Hm?! – ele desviou o olhar para os peixes que pareciam tão entretidos em algo.

—Não pagou uma sessão apenas para olhar peixinhos. Se não se dispor verdadeiramente, nenhum resultado vai chegar. Só estar aqui não muda nada. – Ela fora direta, cirúrgica nas palavras e o fez torcer o bico tal como um menino.

—O que quer que eu fale? Que eu sou uma pessoa problemática, que vim de um lar conturbado, ou sofri maus-tratos? Não... É decepcionante, mas não. Eu sou o que sou.

Ela ajeitou os óculos esboçando um sorriso miúdo e trocou as pernas cruzando para o outro lado.

—Nem todo problema nasce de um lar conturbado, pode se surpreender com a quantidade de pessoas problemáticas vindas de lares ótimos.

—Humpf – ouviu em protesto. O loiro deixou a cabeça deitar no encosto do sofá. – Devem ser sortudos. – Desdenhou com um 'Q' de emburrado.

—Bom, já que teve uma boa infância, vamos começar dela. Me fala um pouco de você. Como você era, tinha amigos... Essas coisas? – ela gesticulou enquanto segurava a caneta entre os dedos.

Ainda fitando o teto, Naruto piscou algumas vezes como se buscasse tais lembranças na mente, mas a verdade era que com o passar dos anos, a mente tende a esquecer deixando gravado apenas coisas realmente marcantes de algum modo.

—Eu... Era um garoto bem baixinho. Bastante desengonçado, muito afoito, impulsivo – ele ia falando e Mabui atentou-se a perna direita que começou a mover em um tique nervoso de quem tinha excesso de agitação. – Eu me metia em mais brigas do que conseguia me livrar delas. Todos os dias eu voltava pra casa com um machucado novo.

—Entendi... E como era na escola?

Naruto sorriu.

—Uma porcaria! Eu era o que chamavam de palhaço da turma. Odiava estudar. Parecia que absolutamente nada entrava na minha cabeça. Droga, eu tentava mesmo estudar sozinho, mas mesmo assim nada funcionava – ele continuava sorrindo, embora os olhos estivessem fechados e Mabui sabia que ele estava vivenciando as experiências naquele instante. – Eu não era popular, essa era a verdade, mas não me incomodava diretamente, no entanto, eu vivia em encrenca, sempre com castigos pós-aula, sempre nas detenções, sempre levando uns puxões da minha mãe. Se bem que às vezes puxão foi pouco. – disse franzindo o cenho.

—Então... Sofria com déficit de atenção e hiperatividade. – Ela anotou isso e ele abriu os olhos a encarando de forma inexpressiva.

—Uma sigla legal para definir um indivíduo disfuncional.

—Isso não é bem verdade. Olhe você agora? E bem, naquela época era algo relativamente novo no campo da psiquiatria, certo?

—Então um garoto com péssimo comportamento, tapado, cabeça-oca, sem muitos amigos, sem dúvidas não era uma boa companhia. Eu fazia muita gente rir, mas quando o dia chegava ao fim eu estava de castigo e sozinho. Sempre.

Reconquistando minha esposaOnde histórias criam vida. Descubra agora