Entre a loucura e a razão

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Ela estava travada olhando para um ponto fixo qualquer enquanto devaneava, havia se perdido um tanto no fio da meada em sua explicação sobre o romantismo na arte, até que o chamado de uma de suas alunas a despertou.

—Perdão – disse e esboçou um sorriso pequeno – onde paramos?

—A senhora parou no sentimento acima da razão.

—Oh, claro. Falaremos então de Delacroix.

Ela precisou amparar-se pela primeira vez em seu cronograma de aula, simplesmente porque não conseguia manter o foco e o objetivo da aula. Claro que esse fato fora percebido claramente pelos seus alunos, bem como o fogo e paixão da qual ela costumava lecionar não estavam ali, aliás, não havia mais fogo algum queimando. Hinata parecia uma tela em branco, sem pintura, sem expressão...

A sempre elegante, apaixonada e vívida professora, estava mais apagada que nunca. Usava uma sandália de saltinho baixo, um vestido longo e um cardigan escuro por cima. Havia usado bastante corretivo e base para esconder as olheiras e manchas do inchaço dos olhos. Os cabelos presos em um coque desconstruído parecia só um pouco desleixado, mas talvez se soubessem como ela estava e como se sentia, não a julgariam como possivelmente a estavam julgando.

A questão é que ela precisava se reerguer, e sair daquela cama foi o primeiro passo. o segundo foi voltar a se alimentar – mesmo que esse ainda fossem difícil – o terceiro foi voltar a conversar com as pessoas, recebeu as amigas em sua casa e em uma ou outra ocasião foi arrastada por Sakura até sua casa. A parte que ela mais odiou nisso, foram os malditos olhares de pena e compaixão, as comparações entre elas, as ameaças aos próprios maridos se o fizessem, mas não era assim e Hinata sabia na pele que não. Cada pessoa só descobre o peso que aguenta carregar quando o recebe. Ela cansava dos julgamentos e da "caça às bruxas" que estavam fazendo com Naruto, não que ela o defendesse, longe disso, mas ela queria apenas esquecer aquilo, esquece-lo, esquecer que estava entrando em um divórcio, tentando esquecer que sentia-se tão miserável, esquecer que aquilo estava machucando tanto quanto viver um inferno a cada dia, mas elas não a deixavam esquecer, elas remoíam e remoíam até Hinata as mandar se calarem finalmente, ela atingiu seu ponto de ruptura.

Tornara-se amargurada e infeliz.

Péssima companhia.

Foi ali que decidiu que o próximo passo era retomar seu próprio controle e com isso resolveu voltar a sua rotina. Fora que já era hora de todos saberem, aliás, todos não, a pessoa mais importante: seu pai.

Naquele dia ela havia almoçado com a rosada e falado justamente sobre isso, que eles almoçariam juntos no sábado e ela finalmente contaria que estava divorciando-se, e principalmente que o pai tivera razão em tudo... Não era tão fácil quando se parecia colocar o rabo entre as pernas e admitir derrota, mas se havia algo que ela bateria no peito e jamais se constrangeria em assumir é que ao menos da parte dela foi sincero, ela o amou e ainda amava até a última célula de seu corpo, mas entre amar e aceitar o sentimento havia agora uma linha que talvez logo se tornaria uma barreira. Não houve apenas uma traição de sentimentos, houve uma total ruptura de confiança, e essa para restaurar-se era quase impossível.

Arrumando seu material sobre a mesa da classe enquanto os alunos saiam, ela então recordou-se das palavras de sua amiga:

"—Você precisa voltar a viver Hina, não é porque aquele safado quebrou seu coração que acabou. Ainda sonho em ver seu sorriso alcançar seus olhos outra vez."

Suspirou. De fato, isso acontecer parecia um pensamento tão distante e impossível a cada novo dia.

Ela levou a mão ao celular sobre a mesa e foi nesse instante que uma batida na porta ganhou sua atenção. Os olhos perolados piscaram algumas vezes ainda sem saber se estava delirando ao vê-lo ali.

Reconquistando minha esposaOnde histórias criam vida. Descubra agora