O presente é uma dádiva

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Queria saber o que você está pensando

Palavras não vêm assim tão fácil

Pode ser que sejamos quebrados intencionalmente

Eu não posso evitar como estou me sentindo

Com medo das minhas próprias motivações

Eu não quero desperdiçar seu tempo...

Os olhos azuis pareciam apenas incapazes de desconectar daquela cena. Através do vidro que o separava da sessão da UTI-Neonatal, ele apenas apreciava em silêncio aquele pequeno pedacinho de milagre. Sua respiração estava tão calma e lenta se comparada aquele corpinho pequeno que recebia ajuda para respirar através do CPAP. Tão pequeno, tão frágil, mas tão forte e intenso... Boruto fazia jus ao seu nome e chegou causando um rebuliço. Naruto ainda sentia a mão ligeiramente tremula ao imaginar que a apenas algumas horas atrás ele ainda tocava a barriga de Hinata, e agora, aquele bebê, o filho deles, estava bem ali. Era tão surreal. De fato, ele nunca esteve preparado para tudo aquilo, mas isso não era ruim, só tornava as coisas ainda mais intensas e únicas. Memórias que seriam para sempre marcantes.

O Uzumaki se pegou recordando dos instantes que se seguiram o nascimento do pequeno. Do choro de Hinata que pareceu entrar em crise ansiosa, de ele querer estar com ela, mas ter que seguir a equipe com Boruto, o que o obrigou a fragmentar-se, a lembrança de Hinata sendo medicada, ou dos primeiros procedimentos realizados em seu filho prematuro e de tantas coisas faladas que lhe pareciam estranhas, e como um eco longínquo na mente que estava apenas concentrada naquele pequeno ser e pensando na mãe dele que ficou em um daqueles quartos.

Então, com toda a sua atenção focada em Boruto, Naruto soube então que absolutamente nada lhe seria tão importante quanto aquela criança, que seu dever era muito além de ser uma figura, mas deveria ser a maior barreira dele, o seu porto seguro, seu grande gigante que deveria impedir de qualquer mal se aproximar. Ele sabia que seria capaz de morrer a deixar qualquer coisa acontecer com seu filho, mas, ao mesmo tempo, preocupava-se em ser aquele todo. Seria homem o suficiente? Ele teria que ensinar tantas coisas para o filho, mas ainda se sentia como uma criança diante da vida. No entanto, havia propriedade em algumas coisas da qual ele queria, ao formar valores o bastante para ensinar o pequeno Uzumaki, e o primeiro deles era o amor. A valorizá-lo e permitir-se.

Queria poder segurá-lo no colo, queria protegê-lo da dor, queria ser Deus, para que o filho pudesse estar naquele momento nos braços da mãe mamando pela primeira vez, em vez disso, estava cheio de tubos e monitores.

"— Ele nasceu várias semanas antes do previsto, é normal que demore a se acostumar, mas no momento ele está no limite da oxigenação, se ele não responder bem com CPAP, vamos ter de entubá-lo, e isso não é algo que desejamos"

Não, ele conseguiria superar aquilo. Seu filhinho era forte o bastante para isso, e faria jus ao significado do seu nome: "forte"

Ele então se pegou pensando em Hinata, no momento do parto, nas palavras dela, na dor dela. Seu mundo havia virado de cabeça para baixo e tudo estava tão rápido. Ele a deixou cansada, desgastada e agora ciente de que muito deprimida.

Chegou a ligar para Shion pedindo para a assistente ajudar a família da tal Shizuka com tudo que precisasse, além de prestar assistência e condolências em nome não apenas dele, mas de Hinata como paciente.

De repente, o celular em seu bolso vibrou, ele puxou entre os dedos e sorriu ao ver o nome da mãe acender no ecrã. É talvez ele estivesse tão frágil quanto uma criança e queria sua mãe. Não tardou em atender, e usando um tom baixo para não incomodar por estar ali, ele começou a falar com ela. Logo as palavras que ele já supunha ouvir, vieram:

Reconquistando minha esposaOnde histórias criam vida. Descubra agora