Qual foi a última vez que se tocaram pele contra pele? Quando ela sentiu o sabor e molhado do beijo dele antes de tudo ruir? Quando fora o último momento, aquele do adeus que nem imaginavam ter, aquele em seus corpos se uniram se fundindo em êxtase e prazer terminando com ele mole em seus braços?
Hinata mordeu levemente os lábios, enquanto seus dedos deslizavam pela madeira laqueada do berço enquanto nutria aqueles pensamentos cada vez mais fortes. Os olhos em sua visão periférica capturavam a figura máscula que se aproximava da janela do quarto infantil e fora aí que ela se praguejou mentalmente. Ela era uma pessoa sensível, e no sentido não apenas literal, mas figurativo. Conseguia enxergar beleza, arte, cores... profundidade em tantas coisas. Comovia-se com nuances e sutilezas complexas, mas lá estava ela no que deveria ser um quarto perfeito do seu primeiro – e em tese único – filho, sem sequer mergulhar profundamente com qualquer outra emoção senão aquelas que envolviam Naruto. Parecia apenas complicado aquele elo maternal e não entendam errado, não significava que ela não amasse aquele ser que crescia em si, ou que não se sentisse mãe, acontecia apenas que ela era uma bagunça e as frustrações, a culpa, remorso, vazio, ansiedade e insegurança dominavam-na para além do que ela podia suportar. A terapia ajudava, claro que sim, mas era um processo e tal como, precisava de tempo, de dedicação, e principalmente de motivação e comprometimento.
Suspirando, ela sorriu ligeiramente enquanto observava o loiro perdido em linhas de pensamento que facilmente se marcavam em expressões faciais. Fora tão sutil e automática sua frase:
— Se ficar se concentrando tanto em pensamentos assim, logo terá rugas...
Ele virou-se e a fitou. Olhos perolados tão límpidos e doces, mas o sorriso parecia tristemente nostálgico ao se dar conta de tal conversa vinda do passado. Talvez temesse ou compreendesse que o: "te amaria de qualquer maneira, mesmo com rugas" era algo que estava encapsulado em um passado.
"Na alegria, ou na tristeza, na saúde, ou na doença... na riqueza, ou... na pobreza..."
Como uma simples promessa, da qual parecem palavras simples, juras simples, pode ter tanto peso e significado literal e emocional em uma relação?
No fundo, bem lá, no fundo, com o coração acelerando diante da premissa, Hinata esperava que ele dissesse algo. Que ele se colocasse em sua posição, que ele a indagasse: ainda me amaria mesmo com elas? E de algum modo, no seu íntimo – mesmo que ainda ferido e magoado – algo gritou que sim, ela o amaria ainda assim, que mesmo velhinho, ou pobre, ou cheio de manias... ela ainda o amaria, mas o silêncio e apenas aquele ligeiro sorriso como resposta a perturbou, decepcionou e ela nem entendia o real motivo de tal sentimento, apenas sentiu a onda dolorosa quando a razão, quebrando seus sentimentos disse: você o amaria pobre, velho, irritante, mas amaria também o traidor?
Os lábios femininos entreabriram-se quando uma resposta entalou em sua garganta. Porque perdoar era mais difícil do que realmente parecia? Talvez porque ela agora soubesse e entendesse que aquilo não deveria ser dito da boca para fora, mas sim vindos de uma alma cicatrizada de um coração aquebrantado e manso que realmente está pronto para se libertar daquele peso. Então era tão estranho e completo você amar tanto alguém e ainda assim não querer só... perdoá-lo. Querer estar em seus braços, mas, ao mesmo tempo, o desejo de sufocá-lo e fazê-lo sangrar e sentir a mesma dor que você sente. Hinata vivia o exato momento que sua mente gritava não, se afaste. E seu coração gritava, sim, você o ama e é tudo que importa.
Será?
De mãos no bolso, ele virou-se completamente em direção a mulher que sentiu a face esquentar rápido demais. Ela disfarçou o constrangimento voltando a olhar ao seu redor os detalhes que estavam sendo arranjados. Era incrível apenas ver que aquele lugar tinha uma atmosfera completamente diferente do que ela impôs na sua versão. Enquanto em sua casa, o quarto do bebê tinha um ar luxuoso, na versão de Naruto parecia mais... acolhedor e aconchegante. E não era como se ele tivesse sido desleixado, ou poupado, tudo parecia bastante caro, personalizado, sob medida, mas a forma que tudo se encaixava a fazia se sentir envergonhada pelo tato zeloso da qual ela mesma não tivera. Ela era a artista sensível, mas fora o suposto frio e arrogante que causara mais impacto. Ela podia ver os brinquedos, os nichos e prateleiras, os armários e um quadro com uma versão miniatura do mascote dos Raposas com o uniforme. Claro que o Uzumaki teria comprado uma versão mini do uniforme do seu time do coração para o filho.
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Reconquistando minha esposa
FanfictionNaruto tinha a vida perfeita, a esposa perfeita e estava quase no topo da escalada do sucesso profissional e viu tudo isso escapar entre seus dedos quando Hinata decide dar um fim ao casamento deles ao descobrir um caso extraconjugal. Completamente...