Pesadelo

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Queria chorar, gritar, correr e até mesmo perder o folego de tanto falar, mas nem ao menos conseguia produzir essas emoções, minha mente funcionava em um turbilhão esquisito onde não conseguia demonstrar mais nada, nem ao menos sentir alguma coisa. A voz de Draco ainda ecoava na minha cabeça e depois de passar a noite inteira chorando por não ter conseguido ficar ao lado da única pessoa que talvez fosse me ajudar nisso, comecei a pensar que estava enlouquecendo.

O cheiro de mofo desse lugar era insuportável, não sei qual foi a razão mas não estava com outras detentas, haviam me deixado sozinha. Sentia saudade de casa, do meu quarto, do meu pai incrível de cabeça oca e até mesmo do meu irmão. Dois dias aqui dentro pareciam uma eternidade sem fim, ninguém podia me visitar e eu sabia disso, era torturante e só estava aqui a dois dias. 

Novamente senti as lágrimas escorrerem quando meus pensamentos vagaram até Draco, queria vê-lo, queria tocá-lo. O maior dos meus pesadelos havia se tornado real, eu o amava e ele não poderia estar comigo, me perguntava como ele estaria naquele hospital, será que Pansy estava ao lado dele? o ajudando? Bem, se eu fosse rainha não sairia daquele quarto e rezava para que Pansy tivesse esse mesmo pensamento. Não conseguia imaginar um mundo onde ele não existisse, onde não pudesse ver seu sorriso todos os dias, mesmo que agora ele me enxergasse como uma amiga. Nós dois nunca fomos apenas amigos, desde o momento que o vi sabia que a importância que ele teria na minha vida seria significativa, só não imaginava que o tamanho dessa importância fosse doer tanto. Novamente estava voltando à estaca zero com meus sentimentos, fui burra demais para me dar conta só agora que não deveria ter feito tudo o que fiz.

- Não chore querida, vai acabar logo. Prometo. - reconheci a voz de Narcisa quase que imediatamente

Os lábios vermelhos e o vestido negro caido sobre varias camadas como se fosse em uma festa me deixou com um precentimento ruim. Agarrei as grades daquela cela a encarando e me levantei. Se fosse para me olhar então seria a altura.

- O que quer, Narcisa? Acho que já conseguiu o bastante. - respirei fundo tentando ao máximo manter uma voz firme, aquela vagabunda não iria me desamar

- Queria te dar duas notícias, não perderia isso por nada, é claro! - seu sorriso se abriu como se seus lábios fossem rasgar de tanto esforço - o príncipe não acordará tão cedo e como Pansy…

- Pansy não chegou a se casar! - entendia exatamente onde ela queria chegar com aquilo, mas Narcisa não se abalou

- Não, mas a coroação foi realizada. Então mesmo sem casamento a lei permite que Pansy Parkinson seja rainha, querida. 

Afrouxei os dedos da grade tentando buscar ar suficiente para me manter em pé. Outro pesadelo. Draco iria se casar ainda dormindo.

- Você não pode… - voltei a agarrar as grades com força desejando que fosse o pescoço de Narcisa - ELE ESTÁ EM COMA, NÃO PODE FAZER ISSO! - meus gritos eram altos demais

- Eu posso e vou. O rei está morto, o que me torna responsável por ensinar Pansy como governar um país - observei seu rosto se contorcer em nojo quando observou minha cela mais atentamente - deve se sentir em casa, não é? Sua família não vive num quarto só?

- Um dia ele vai acordar, Narcisa! E quando isso acontecer você será expulsa, não só daquela mansão mas também da vida dele. Mesmo que seja a própria mãe

- E quem disse que eu sou a mãe dele? - seu sorriso novamente apareceu me causando um arrepio pela espinha 

- Você é monstro! O criou sua imunda, devia pelo menos o amar então - naquele momento senti dentro de mim a maior esperança que não sentia a meses, se Narcisa não era mãe de Draco, eu tinha uma chance quando ele acordasse - o que sempre me separou dele foi você, não saberia conviver com uma pessoa igual a você.

- Errada! Você mesma causou tudo isso sem a minha ajuda e eu realmente agradeço o esforço, é claro que não teria conseguido sem a ajuda de Georgiana…

Meu coração parou por um segundo antes de voltar a realidade, um nó surgiu tão profundamente na minha garganta que não pude evitar. Tudo fazia sentido agora.

- Quem você acha que me contou sobre você e o príncipe? ou sobre seu vestido e a forma como tratava os empregados? suas inseguranças sobre Pansy Parkinson só me deram mais certeza que minhas fichas tinham que ser apostadas nela antes que Draco, bem, escolhesse você. Então digamos que implantei uma sementes na cabeça oca dos pais dela, sabia exatamente como agir. Mas então você me surpreendeu menina, disse para Georgiana exatamente o que eu queria escutar. Como fazer para o Draco não escolher você… - ela parecia explodir em êxtase 

- Pediu para ela me dar os conselhos… - senti as lágrimas escorrem e não consegui segurar

- Sim. Teria que fazer você acreditar que Draco estava distante o bastante. Você teria que terminar isso, não eu. E você acabou com tudo, criança - em passos firmes ela se aproximou - você acabou, não eu. Acha mesmo que não sabia que iria para o hospital aquele dia? Fui eu que pedi para Georgiana dar um jeito de mostrar a notícia sobre o acidente do príncipe a você. Hermione, eu apenas montei as peças mas quem deu o xeque mate foi você. Agora preciso ir, tenho um anúncio a fazer

- Espere! - gritei quando ela já estava longe o bastante - disse… me disse que seriam duas notícias… 

Narcisa ergueu uma das mão como se tivesse lembrado de algo importante

- É claro, como pude esquecer - sem cerimônias voltou a falar- você seria sentenciada a morte hoje mas não vai, outra pessoa implorou para ir no seu lugar e acredito que o enforcamento já deva estar acontecendo para todo o país nesse exato momento - arregalei os olhos para aquilo - mas não crie esperanças, tenho outros meios de ter certeza que vai apodrecer a dez metros do chão.

Novamente ela me deu as costas e mesmo com medo e angústia de saber a resposta, eu precisava saber.

- Quem se entregou no meu lugar? - minha voz já saia fina demais 

Narcisa se virou com um sorriso gigante analisando meu rosto como se fosse um inseto, um inseto perigoso demais que merecia ser esmagado o quanto antes.

- Seu pai.

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