Hogwarts

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Minha cabeça estava encostada no vidro da janela do banco do passageiro que permanecia fechada, por vezes meu pai disse que iria arrumar o fecho que impedia o vidro de ser aberto, e por vezes tive que rir das próprias mentiras que ele contava a si mesmo. Não tínhamos dinheiro para comprar o carro do ano, então posso dizer que meu pai trabalhou dia e noite para conseguir pelo menos o modelo mais simples do mercado, não me importava com isso, afinal, sempre gostei de relíquias. A estrada era comprida e não me lembro de uma única vez na qual tivemos que viajar tão longe assim, na verdade, conto nos dedos as viagens que eu e meu pai fazia quando ele recebia um valor extra no emprego como jardineiro de uma mansão situada na região da casta (dois). Nossa vida sempre foi ter que conviver entre a corda bamba das contas que estavam sempre atrasadas e a comida que nunca foi farta na mesa. No ensino médio eu tinha um apelido que anos depois me traria diversos problemas. Nunca vou me esquecer do olhar maléfico de Regina para meus sapatos que na sua piada interna em sua roda de amigas era” a lixeira das roupas”. Elas não sabem como todas as piadas sobre minhas blusas rasgadas ou meus sapatos velhos causaram, acredito que minha ansiedade começou a se apresentar nessa época causando não só em mim o pior estrago da minha família. Meu pai se endividou quando gritei na sala do hospital que jamais pisaria meus pés naquela escola novamente. Me pergunto se Regina se tornou uma pessoa melhor ou ainda continua a mesma prepotente de antes, espero que para o bem dos outros tenha mudado, ela sempre se engrandeceu por sua mãe ter se casado com alguém da casta três.

- Mione está vendo? Chegamos! - abro os olhos lentamente me separando com um gigante castelo a minha direita - na próxima vez você virá de trem, estamos a quase 20 horas na estrada. - ele então suspira tedioso.

A floresta que cercava o castelo de entrada com toda certeza era um dos lugares mais lindos dali, lindo, porém, sombrio. A floresta se estendia até onde nossos olhos conseguiam alcançar, parecia que estávamos olhando para um grande castelo medieval antigo com várias torres e colunas de sustentação. As janelas, por exemplo, tinham curvas antigas e o lugar com toda certeza pertence à realeza, era como aqueles castelos medievais que vemos nos filmes. Havia um caminho onde meu pai seguia conforme as placas indicavam "dormitórios". Havia algumas árvores espalhadas pelo caminho de pedra que nos levava a entrada, o portão que separava o castelo tinha dois grandes javalis em concreto, mas o que mais me chamou a atenção foi o grande campo que existia logo atrás, parecia algum tipo de arquibancada. Quando chegamos mais próximos à placa" dormitório feminino a direita" pude ver os detalhes desgastados por causa do sol, era real, eu estava diante do meu futuro com alguns passos de distância.

- Vou buscar as caixas no porta mala e você fica com a bagagem no banco de trás.

Meu pai desceu tão empolgado do carro que desejei que ele realizasse o sonho de iniciar o curso de história que tanto sonhava. Respiro fundo fazendo uma aula básica de controle de respiração que vi na “internet” a alguns dias, esse tipo de coisa evitava que minha crise de ansiedade atacasse. Sinto meus pés tocarem o chão e pela primeira vez desde a viagem até o “campus” de Hogwarts, meu coração dispara a mil por hora, o caminho todo foi tranquilo, mas quando finalmente tive a certeza que estava aqui e que talvez o inferno começaria de novo meu corpo reagiu da única forma que sabia, despejando em mim ondas de tremores e pânico. Quando percebi já estava dentro do carro de novo com as portas fechadas e meu pai do lado de fora com pilhas de caixas nas mãos.

- Mione, abre a porta querida… - ele se equilibrava como podia - olha tudo aquilo passou e aqui vai ser diferente, esse lugar é perfeito e você tem muita sorte de estar aqui.

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