Capítulo III: Portas de lugar nenhum

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Samuel

Não sabia dizer se o que eu ouvia era minha imaginação ou se era real.

Batimentos ritmados claramente soando na ponta dos meus ouvidos. Os batimentos cardíacos da minha irmã, simples e de algum jeito sincronizados com os meus.

Levantei meu pedaço de cartolina assim que a primeira pessoa saiu do portão de desembarque do aeroporto, com meus pensamentos a mil.

Havia chegado aqui horas antes, e estava esperando o voo atrasado da minha irmã junto do motorista que iria nos levar até a academia. Um homem de pele negra e com mais de dois metros de altura que me deixava inquietamente curioso para saber o que se passava por trás daqueles óculos escuros e sérios. Ele não era humano, isso eu conseguia sentir.

Mais seis pessoas saíram antes que eu avistasse os cabelos loiros da minha irmã. E foi como se o tempo parasse. Lentamente minha mão foi se abaixando. Era estupidez pensar que ela realmente precisaria daquilo para conseguir me localizar.

Era como uma conexão magnética que nos puxava a nos encontrar. E ela me achou e tudo parou.

Demorei para notar a mecha escura no seu cabelo que descia pelo lado esquerdo do seu rosto, ela tinha feito isso recentemente. Lexa correu até mim assim que conseguiu se desvencilhar da multidão a sua frente, parando a centímetros do meu corpo.

Ainda estávamos mudos quando levantamos nossas mãos no ar e tocamos a ponta de nossos dedos indicadores na linha dos nossos narizes.

E foi como ligar uma lâmpada a uma usina de energia.

Uma pequena faísca avermelhada se fez no ponto em que nós tocamos e depois o tempo voltou a passar normalmente, e em um raio de quinhentos metros toda a iluminação ao nosso redor simplesmente explodiu, criando uma cortina de faíscas sobre nossas cabeças.

– Oi, mano.

Disse ela com o forte sotaque.

Oi.

Respondi sem mexer os lábios. Simplesmente na sua cabeça.

Isso vai ser demais.

– Podemos ir?

O motorista perguntou em inglês com uma voz grossa nenhum um pouco impressionado pelo nosso show de luzes igual a todos ao nosso redor que estavam nitidamente assustados, como nos filmes quando algo acontecia nos aeroportos e todos automaticamente assumiam que era um atentado terrorista.

Ao eu menos eu sabia o básico do idioma para me virar.

//

Não prestei atenção em quanto tempo levou para chegarmos do aeroporto até a academia, Lexa e eu estávamos ocupados demais conversando. Mas evitamos nos tocar com o máximo de cuidado. Não sabíamos se outro toque poderia fazer o carro preto e de vidros escuros que estávamos capotar no meio da pista ou simplesmente levitar.

– Vocês estão prontos?

Disse o motorista cortando o silêncio que ele tinha formalmente adquirido desde que Lexa apareceu.

Levamos nossos olhares para a janela esquerda do carro e fitamos a rua. Um muro cinza que parecia ser feito de rocha pura havia pintado o ambiente e segundo por segundo o carro foi desacelerando até parar.

Lexa

O carro parou em frente a um gigantesco portão de metal, daqueles vazados como grandes lanças postas simetricamente uma ao lado da outra.

– Você pode sentir?

Perguntei encantada.

– Magia. Verdadeira e intensa. Estou sentindo desde que cheguei, mas aqui tem muito mais.

Bruxos&Demônios, vol. I - Fumaça&CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora