Capítulo XI : Quando estranhos conversam entre si

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Samuel

Quem liga para alguém as quatro da madrugada? Meu pai e seu estranho raciocínio.

– Alô.

Disse atendendo a ligação sem jeito, como em todas às vezes.

Nosso pai tinha o costume de me ligar uma vez ao mês, mas sem num dia em horário aleatório, não me deixando muito preparado para nossas conversas estranhas. Eu ainda preferia a ligação anual de aniversário, essa pelo menos tinha algum tema para nos apoiar.

– Oi.

Disse ele em resposta, então o silêncio se fez.

Como sempre ele não fazia muita ideia de como conversar comigo, especialmente nos últimos meses.

– Onde o senhor está?

Perguntei tentando criar alguma pauta para a estranha conversa.

Não me preocupei com meu tom de voz, pois estava sentado no sofá da sala de convivência tentando encontrar algo na televisão para me assistir. Tentando assim ignorar a dor de cabeça persistente, e também a afastando de Sébastien.

As dores eram constantes. Efeitos colaterais comuns de bruxos com habilidades psíquicas como a minha. Mas com as minhas crises de ansiedade, elas se tornavam piores. Mas não havia muito a se fazer infelizmente a não ser esperar meus poderes se fortalecerem e as dores acabarem com o tempo. Era um desenvolvimento comum para muitos bruxos.

As imagens na televisão eram de alguma reportagem do mundo dos humanos que eu não fazia à menor ideia do que se tratava, estava mais absorto do que o normal sobre o mundo exterior. Mas bruxos ou outros seres místicos não tinham redes de televisão então acho que a ideia de termos uma tevê acabo na sala de convivência era para nos deixar a par do mundo lá fora.

– Por que pergunta?

Respondeu, não era isso que eu esperava ouvir. Obviamente.

– São quatro da madrugada pai, você está em algum lugar com um fuso horário diferente dos Estados Unidos. Só por isso.

Respondi tentando não parecer irritado.

Ele riu.

– Às vezes esqueço que você é inteligente – comentou, e eu tentei não levar como ofensa – Estou em um lugar ensolarado – disse por fim, sem dizer onde estava ou por que estava, e principalmente tomando cuidado para não mentir para mim, ele havia descoberto da pior maneira minha capacidade de dizer quando alguém estava ou não dizendo a verdade – E a academia?

– Bem, Lexa e eu já arrumamos algumas confusões e chamamos mais atenção do que eu gostaria, mas estamos bem.

Então fiz o que sempre faço nessas horas, mudei o assunto para minha irmã, um a qual ele dominava com maior facilidade.

– Sua irmã nunca aprende. Não sei como ela sobreviveu quieta por tanto tempo nos internatos. Acho que tive sorte que o dom que ela possui não era ofensivo.

Completou.

– Ela quer te deixar orgulhoso. Ela sempre quer.

Exclamei deixando escapar mais ressentimento do que deveria.

– Sempre estou orgulhoso de vocês, sempre. Dos dois, saiba disso Oliver.

Disse ele por fim me chamando pelo meu segundo nome, o nome do meu avô.

Mas como estaria orgulhoso de mim... Não fazia sentido.

– Hmm... Você vem nos visitar em breve?

Perguntei simplesmente para afugentá-lo, eu também não era um exímio trabalhador em nossas conversas.

Bruxos&Demônios, vol. I - Fumaça&CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora