Lexa
E tem aquele momento em que você achava que está tudo bem, e simplesmente percebe que tudo que está acontecendo é um sonho, bem, esse momento tinha acontecido agora.
Enquanto pensava um bando de coelhos multicoloridos saltou sobre minha cabeça, como um rebanho de cangurus saltitantes, então sentei sobre um marshmallow de morango e fiquei esperando.
Arranquei alguns pedaços do marshmallow com a mão e comecei a comê-los, totalmente ciente que estava sonhando esperando inutilmente a hora que eu fosse acordar.
Por um lado, havia o perfeito fato que meus sonhos sempre estarem ensolarados, algo não visto há dias em Nova Salém por causa da chuva irritante que ainda nos castigava com tédio e umidade excessiva.
Por fim um arrepiou cruzou minha espinha e um vento frio soprou na minha nuca, e meu corpo se levantou de imediato.
Minhas roupas que antes eram uma saia e blusa, agora tinham sido trocadas pela minha camisola rosa, que não era nada mais que uma blusa masculina do tamanho G com a estampa de um rinoceronte matado uma zebra.
E como nos filmes de terror eu fiz o que não deveria fazer, fui na direção que fazia meu corpo inteiro tremer, na direção da estranha sombra entre as arvores Pingo de Arco-íris.
Assim que consegui me enfiar entre duas árvores pude sentir a lama viscosa por baixo dos meus pés, e os gravetos duros entre meus dedos.
Continuei até consegui me mover entre a vegetação e conseguir algum tipo de visualização. E eu realmente não deveria ter saído de onde estava.
Quando a luz ficou clara novamente, eu já não estava, nem de longe, nas terras dos meus sonhos alegres e cheios de vida, e sim em um lugar totalmente diferente. Pintado em dezenas de tom de cinza.
– O que você está fazendo aqui?
Amora perguntou atrás de mim usando sua estranha camisola de fantasma, que era nada, mas que uma camisola de tecido branco e esvoaçante.
– O que você está fazendo no meu sonho?!
Perguntei ofendida. E eu era boa em ficar ofendida sem razão.
– Isso não é um sonho, é a minha consciência – disse ela estranhamente convicta – Ou pelo menos o lugar onde sou tragada toda vez que estou sonâmbula.
E o choque me fez reparar nos olhos castanhos de Amora, olhos de um castanho dourado que não deveriam estar ali. Seus olhos eram sempre cinza, de uma coloração quase sobrenatural, então o estalo se fez nos meus pensamentos. Esse era o lugar onde sua personalidade ligada a bruxaria era enviada em tempos de conflito. E era daí que saiam seus olhos acinzentados. Da sua herança feérica.
– Maldição! Como eu vim parar na sua cabeça?
– Como eu vou saber? Ninguém nunca apareceu aqui antes.
Retrucou confusa.
– E como eu saio?
– Novamente, COMO EU VOU SABER?!
– Não, não, não!
Samuel! Samuel! Samuel!
Gritei mentalmente o máximo que pude, mas não senti sua mente tocar a minha ou nada parecido, ele estava fora de alcance, ou talvez a mente de Amora fosse um muro, eu não fazia ideia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bruxos&Demônios, vol. I - Fumaça&Cinzas
FantasyLexa e Samuel estão animados para ingressar em uma das mais famosas academias de bruxaria, em Nova Salém, bem longe de seus respectivos lares no Brasil e na Inglaterra. Separados desde os oito anos de idade, essa é a primeira oportunidade que possue...