Capítulo XXXII: Ouça bem ou não ouça nada

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Lexa

E tem aquele momento em que você achava que está tudo bem, e simplesmente percebe que tudo que está acontecendo é um sonho, bem, esse momento tinha acontecido agora.

Enquanto pensava um bando de coelhos multicoloridos saltou sobre minha cabeça, como um rebanho de cangurus saltitantes, então sentei sobre um marshmallow de morango e fiquei esperando.

Arranquei alguns pedaços do marshmallow com a mão e comecei a comê-los, totalmente ciente que estava sonhando esperando inutilmente a hora que eu fosse acordar.

Por um lado, havia o perfeito fato que meus sonhos sempre estarem ensolarados, algo não visto há dias em Nova Salém por causa da chuva irritante que ainda nos castigava com tédio e umidade excessiva.

Por fim um arrepiou cruzou minha espinha e um vento frio soprou na minha nuca, e meu corpo se levantou de imediato.

Minhas roupas que antes eram uma saia e blusa, agora tinham sido trocadas pela minha camisola rosa, que não era nada mais que uma blusa masculina do tamanho G com a estampa de um rinoceronte matado uma zebra.

E como nos filmes de terror eu fiz o que não deveria fazer, fui na direção que fazia meu corpo inteiro tremer, na direção da estranha sombra entre as arvores Pingo de Arco-íris.

Assim que consegui me enfiar entre duas árvores pude sentir a lama viscosa por baixo dos meus pés, e os gravetos duros entre meus dedos.

Continuei até consegui me mover entre a vegetação e conseguir algum tipo de visualização. E eu realmente não deveria ter saído de onde estava.

Quando a luz ficou clara novamente, eu já não estava, nem de longe, nas terras dos meus sonhos alegres e cheios de vida, e sim em um lugar totalmente diferente. Pintado em dezenas de tom de cinza.

– O que você está fazendo aqui?

Amora perguntou atrás de mim usando sua estranha camisola de fantasma, que era nada, mas que uma camisola de tecido branco e esvoaçante.

– O que você está fazendo no meu sonho?!

Perguntei ofendida. E eu era boa em ficar ofendida sem razão.

– Isso não é um sonho, é a minha consciência – disse ela estranhamente convicta – Ou pelo menos o lugar onde sou tragada toda vez que estou sonâmbula.

E o choque me fez reparar nos olhos castanhos de Amora, olhos de um castanho dourado que não deveriam estar ali. Seus olhos eram sempre cinza, de uma coloração quase sobrenatural, então o estalo se fez nos meus pensamentos. Esse era o lugar onde sua personalidade ligada a bruxaria era enviada em tempos de conflito. E era daí que saiam seus olhos acinzentados. Da sua herança feérica.

– Maldição! Como eu vim parar na sua cabeça?

– Como eu vou saber? Ninguém nunca apareceu aqui antes.

Retrucou confusa.

– E como eu saio?

– Novamente, COMO EU VOU SABER?!

– Não, não, não!

Samuel! Samuel! Samuel!

Gritei mentalmente o máximo que pude, mas não senti sua mente tocar a minha ou nada parecido, ele estava fora de alcance, ou talvez a mente de Amora fosse um muro, eu não fazia ideia.

Bruxos&Demônios, vol. I - Fumaça&CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora