Capítulo XVII: Não pense em coisas complicadas

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Samuel

Eu iria matar a minha irmã, com certeza e absolutamente sem nenhum remorso. Mas talvez, só talvez, ela não tenha feito tudo errado.

Killian estava lá, intocável para mim. Poderia me desculpar, é claro, mas com Rex somente esperando o momento certo para atacar, a mera possibilidade de tentar me aproximar de Killian novamente parecia um esforço desnecessário.

– No que está pensando?

Sébastien perguntou sentado na sua cama.

– Nada Bash, nada mesmo.

Ele deu de ombros largando o livro que estava lendo sobre a cama, aparentemente ele se entupia de tanto conhecimento que estava começando a me dar aversão a estudar.

– Você quer conversar sobre alguma coisa?

Perguntou voltando a puxar a assunto.

– Não.

Respondi fitando o teto irritante.

– Você está estranho, mais do que o normal.

Ele acrescentou.

– Não estou.

– Está sim.

– Não estou.

Retruquei ainda olhando para cima.

– Sam você está flutuando na cama sem perceber.

Completou e só então senti que não havia nada abaixo de mim, meu corpo estava a um metro acima da cama, fechei os olhos e desci lentamente até sentir o edredom cinza tocar a pele da minha nuca.

– Okay. Não estou exatamente focado hoje.

Disse atravessando meu dedão pelo buraco na manga da camisa preta.

Sébastien pegou seu livro e o pois embaixo da cama, aparentemente aquele lugar era capaz de guardar mais do que eu poderia imaginar, ele se deitou olhando para o teto também.

– Killian?

– Killian.

Arfei.

– Algo mais?

– Quando não tem algo mais?

– Você é mais pessimista do que deveria.

Completou.

– Realista, tem diferença. Mas... Sei lá. Achei que seria diferente aqui.

– Como assim?

Perguntou olhando para mim.

– Não sei, nada especial, só eu com um monte de pessoas como eu, obviamente não foi assim, percebo isso agora.

Confessei.

Era como recomeçar do zero. Preso novamente dentro do esquema dos dramas adolescentes tudo de novo. A única diferença era que para todos da minha antiga turma eu tinha mudado de cidade e ido morar com meu pai.

Enquanto lá eu estava na metade do terceiro e último ano do ensino médio, aqui eu tinha acabado de iniciar meus estudos.

– Isso ainda é uma escola, e escolas sempre serão escolas. Nós vivemos o dobro dos humanos comuns, toda nossa adolescência fica travada até que finalmente sejamos capazes de dominar nossas habilidades. É ridículo, mas é nossa natureza.

Completou, dizendo mais verdades do que eu poderia crer.

Então eu ri.

– Como era onde você morava?

Bruxos&Demônios, vol. I - Fumaça&CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora