Capítulo XLI: O beijo sob o visco

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Samuel

Já estávamos no fim da tarde de sábado, véspera de natal, e toda a academia parecia enlouquecida.

Lexa e as outras garotas estavam se arrumando desde o minuto que acordaram hoje cedo, a sala de convivência delas havia sido transformado em um salão de beleza e estética. E todas pareciam eufóricas. No nosso caso nada havia mudado muito. Mas todos nós cortamos nossos cabelos hoje cedo em uma saleta meio escura que apareceu. Ironicamente o natal nem era realmente uma comemoração mística, ou pagã, ou de qualquer teor sobrenatural. Mas era bastante popular como sempre, principalmente entre os mais jovens de nós.

Para minha sorte, vovó havia me mandado hoje cedo um pacote, nele havia um blazer em tom grafite e uma camisa social escura nova, já que eu meu último traje tinha sido usado no funeral de Demetria – e Cecilly – mas não era só Lexa que parecia estar ocupada, Sébastien também parecia estar com seus pensamentos cheios.

Terminei de limpar meu rosto com a toalha branca do banheiro e voltei a andar até meu quarto.

E todos os momentos do dia, havia alguém indo de cá para lá, e de lá para cá. Tanto aqui dentro como lá fora. Não só gárgulas, mas mulheres e homens com uniformes padronizados para funcionários também tinham surgido do nada e agora preenchiam o gramado do lado de fora da casa cinza, e como presumo por dentro também.

Assim que entrei no quarto, o cheiro leve de fumaça foi a primeira coisa que senti.

Um papel meio queimado estava caído perto da cama de Sébastien, me aproximei dele até sentir a chama fraca de magia emanar. Os meses sendo curado por Sébastien e o vendo praticar magia haviam me feito mais sensível a sentir a presença da sua assinatura mística. Mas queimar um papel requeria tão pouco dela, que parecia absurdo eu poder senti-la com tanta facilidade. Mas magia não era a única impressão que poderia ficar presa quando alguém lançava um feitiço. Suas emoções também podiam – se elas forem fortes o suficiente – Eu ainda não sabia identificar esse tido de coisa, Lexa com certeza teria mais facilidade.

Mas em todos esses meses nunca vi Bash usar magia para algo tão banal como colocar fogo em um papel. Algo na minha cabeça estava apitando: Região de SEGREDOS.

E em um pensamento impulsivo eu fiz.

Peguei a carta e tentei ler o que ainda tinha nela, e consegui pegar o último parágrafo.

Sua carta deve ter se perdido, como seu pai e eu presumimos com tanto otimismo filho. Mas lhe mandamos essa para lhe confirmar nossa presença no baile dessa noite. Até lá, e faça o que nos prometeu...

– Lucinda Strider

A mais ou menos uma semana todos nós escrevemos cartas para nossos familiares, todas a mão, como manda a tradição, então presumo que sejam os convites para baile que ela falava. Mas quem era Lucinda? Presumo que esse nome seja o nome da mãe de Sébastien, mas por que ela não se assinou como mãe? Ou por que Sébastien queimaria uma carta tão curta?

Então o som de passos se fez, larguei a carta no chão e a empurrei com o pé para de baixo da sua cama.

Bash surgiu pela porta vindo do corredor e sorriu.

– Que horas é o baile mesmo?

Perguntou ele de maneira casual.

Sébastien era ótimo com informações, mas tinha um problema as vezes com horários.

Bruxos&Demônios, vol. I - Fumaça&CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora