Capítulo XXV: O garoto que sabia de tudo

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Samuel

Era de se esperar que em somente uma semana do ocorrido ainda houvesse aquele ar de pós-luto, porém, como as palavras da diretora mesmo disseram, a morte era algo constante aqui para qualquer um. Então talvez essa fosse à hora para ser prático e não emocional.

E, contudo, esse parecia ser o melhor remédio.

Nossas aulas tinham finalmente voltado ao normal e todos estavam voltando à ativa. Rex por outro lado havia se tornado ainda mais estranho em relação a mim desde a morte de Demetria, eu só não sabia dizer o que se passava na mente dele. Mesmo que eu estivesse tentando a tocá-lo e descobrir.

E ainda havia o Killian. Não que ele já não fosse difícil de entender nos dias normais, mas agora, ou pelo menos durante esses dias ele estava tão diferente comigo que parecia até mesmo atenciosamente fofo. Só que isso me preocupava de alguma maneira. Porque convenhamos, se eu não me preocupar com algo, acho que minha mente fica sem ter o que se apoiar.

Então decidi por ora, simplesmente boiar junto da maré. Bash não tocou no assunto do desmaio e eu resolvi acatar o desejo dele de não mencionar a sensação de morrer. Lexa também não parecia muito feliz em relembrar o motivo a qual tinha uma nova colega de quarto. Ela e Amora coexistiam em uma estranha vivência que eu ainda não conseguia entender. Pois claramente havia mais no motivo daquela, estranha e sem sentindo, antipatia natural que uma tinha desenvolvido pela outra. Mas Amora também não era tão fácil de lidar em âmbito geral.

Sem contar que finalmente estávamos mergulhando em magia real. Não tínhamos tido outro daqueles treinamentos malucos com a professora Moraes nas aulas de Prática e Exercício de bruxaria, mas mesmo assim estávamos aprendendo novos feitiços a cada dia.

Por fim, peguei minha toalha e me locomovi até o banheiro, aproveitando o tempo que teríamos antes do almoço para tomar mais um banho depois de uma estranha aula de Artes Especializadas e uma gosma verde que eu ainda não entendia no que seria útil em nossa educação.

Mais três rapazes estavam no banheiro. Todos tentando tirar a gosma do cabelo com pente e alguns com magia, mas eu queria mesmo um relaxante banho quente.

Entrei na cabine e abri o registro, deixando a água descer pelas minhas costas até a minha canela, e depois para ponta dos meus dedos dos pés.

Minha mão foi levada involuntariamente para pequena cicatriz na minha coxa. Quatros pontos que quase se perdiam na palidez da minha pele. Todas as minhas outras cicatrizes de cortes auto infligidos tinham sido removidas pelos meus avós numa tentativa de me dar uma segunda chance e deixar esse passado para trás. Fileiras e fileiras de linhas em meus braços e calcanhares. Mas eu tinha deixado essa, não sei bem por quê.

Talvez para me lembrar que nem tudo poderia simplesmente ser colocado para debaixo do tapete.

Eu tinha a feito logo depois da minha primeira vez com o Daniel. Me lembro de fugir e claro de me esconder dentro do meu quarto, de pegar a primeira coisa afiada que encontrei próxima de mim e perfurar a minha coxa com ela até sentir o sangue descer pela minha perna. Tentando fazer a dor levar todos os pensamentos que não eram meus para fora do meu corpo. E na época parecia tragicamente relaxante. Hoje eu via como precisava de ajuda.

Despertei da lembrança me forçando a reajustar minha mente.

Terminei meu banho com medo que tivesse me perdido de mais em pensamentos e estivesse atrasado, mais provável que não, já que Lexa ainda não estava buzinando em minha mente.

Assim que abri a porta da cabine ele apareceu. Como eu, vestindo somente uma toalha branca ao redor da cintura, só que com um corpo mais desenhado em músculos e beleza.

Bruxos&Demônios, vol. I - Fumaça&CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora