Capítulo IV : Garotos sendo garotos

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Samuel

Seis em ponto.

Eram exatamente seis da manhã quando as luzes do quarto se acenderam.

Sébastien e eu tínhamos ficado até tarde conversando depois do jantar, então não estávamos exatamente as pessoas mais diurnas do mundo essa manhã. Ele me contou um pouco sobre si, e da família. Porém, havia sido evasivo nos detalhes mais específicos, o que me fez repensar em todas minhas perguntas mais intimas a ele desde então.

Escovamos os dentes, tomamos banho e nos vestimos para o café da manhã.

Pelo menos em contrapartida o nosso banheiro, que tinha o tamanho de dois a três quartos juntos era um lugar mais privativo que o meu antigo vestiário da escola, com aqueles chuveiros espalhados por uma única parede.

As cabines do banheiro da Casa do Leão tinham dois metros de comprimentos e eram revestidos de um vidro escuro e não transparente. A pia era cravada na parede lateral e ainda havia um banco retangular no meio, caso precisássemos nos sentar.

Lexa mesmo acostumada com o horário cerrado não pareceu muito mais feliz que eu quando nos encontramos.

O refeitório era nada mais que um cômodo adjacente a Casa Cinza. Uma espécie de enorme galpão reformado ligado a ela por um corredor.

Sentamos na primeira mesa circular que vimos e pegamos nossas bandejas de plástico, fazendo aquilo parecer bastante com o colegial normal.

– O que exatamente é isso?

Lexa perguntou furando uma espécie de pudim com a colher.

– Um pudim Lexa.

Respondi mordendo uma maçã.

Sentados conosco ainda havia Cecilly, a companheira de quarto da minha irmã, e claro, Sébastien. Ambos estavam mudos.

– Uma pergunta, para todos. O que esperam conseguir aqui?

Perguntei tentando criar um assunto em comum.

– Destino.

Disse Cecilly antes mesmo que Lexa.

– Redenção.

Sébastien foi o próximo, usando o mesmo tom depressivo que ele havia usado ontem à noite quando falou por alguns minutos da sua família.

Lexa colocou sua mão sobre a mesa e eu a segui. Novamente nossos dedos foram guiados a se tocar.

– Conexão.

Dissemos juntos, olhando fixamente um para o outro e foi quando aconteceu. Os copos e bandejas em cima das mesas começaram a se tremer violentamente, mas o impulso de continuar nos tocando, nos distraiu. Sébastien agarrou nossos braços com força nos separando, então a conexão foi cortada. E as coisas voltaram ao normal.

Um flash de imagem saltou para minha mente. Dor. Cura. Sangue. Assim que ele percebeu o que estava acontecendo largou meu braço, mas já era tarde. Eu sabia o segredo dele.

– Arcadia!

Disse alguém ao longe fazendo nós quatro nos viramos para a direção da voz.

O rapaz com cabelo até o queixo que tinha falado alguma coisa ontem estava em pé sobre uma das mesas segurando um punhado de panfletos. Ele os levou até perto da boca e assoprou, girando seu corpo devagar. Em poucos segundos todo o refeitório estava cheio de uma chuva de panfletos.

Pelo menos vinte deles caíram sobre nossa mesa. Lexa pegou e começou a ler em voz alta.

– Arcadia.

Bruxos&Demônios, vol. I - Fumaça&CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora