Capítulo XXII: Dezessete anos de maldição

4.2K 409 184
                                    



Samuel

Várias semanas haviam se passado desde o fatídico ocorrido com a Cecilly, e tudo já parecia normal novamente.

Como se estivéssemos habituados a estranha rotina de parecer bem. Ninguém havia sequer desconfiado do que aconteceu naquela noite e fizemos nosso papel para que continuasse assim, e bem, agora parecia até real.

Lexa e Roman encontraram um bom jeito de distrair suas mentes nesse período fugindo para qualquer lugar e se atracando entre beijos e caricias assim que tinham oportunidade, então tentei me manter fora da vida romântica da minha irmã o máximo que pude.

Não iria dar abertura para ela tentar mexer com a minha, não mesmo.

Essa nova faceta da relação de Lexa e Roman, e o estranho ocorrido, reuniu nosso bizarro grupinho novamente. Mesmo que fosse só por aparência.

Killian e eu conversávamos agora, mas só quando estávamos em grupo. Quando o contrário acontecia, era como se houvesse sempre algo estranho no ar, por sorte Sébastien estava sempre comigo fazendo esses momentos bem raros.

Mas para o azar de Bash, Amora não se sentiu tão a fim assim de se unir a nós.

Guardamos seu segredo durante todo esse tempo, mas ela resolveu que iria nos ignorar em uma tentativa maluca de tentar esquecer aquela noite. Tentamos fazê-la mudar de ideia, mas sempre que ela e Lexa acabavam no mesmo lugar as coisas saiam do controle, e logo achamos melhor deixá-la seguir o caminho que queria.

Se fosse para sermos amigos seriamos, se não, ficaríamos como estávamos.

E com o final de outubro tudo parecia mais revigorante. Eu adorava essa época fria do ano, onde todos eram obrigados a usar tantas peças de roupa que o contato físico de verdade chegava a ser impossível em certos dias. E logo a neve cairia e eu estaria no meu paraíso particular de privacidade e conforto por baixo de tantas camadas de agasalhos que eu poderia me perder dentro.

Nossos livros das sombras começavam a parecer menos vazios agora depois de três meses de aula, mas ainda assim, sempre tínhamos aquela sensação que não havíamos aprendido nada ainda. Talvez fosse só apreensão, não sei.

Mas os planos para o dia seriam diferentes.

Levantei o mais silenciosamente possível antes que as luzes se acendessem. Desci até nossa dispensa e peguei tudo que precisava e subi o mais rápido que consegui.

Bash ainda dormia como era esperado.

Amarrei os balões coloridos de hélio em um descanso de papel, acendi a vela sobre o cupcake e esperei, em menos de um minuto as luzes se acederam e Sébastien despertou.

– Feliz aniversário!

Gritei mais alegre e alto do que deveria. Ele quase teve um infarto saltando da cama para trás, batendo sua cabeça na parede.

Seu rosto estava estampado em algo que era bem diferente da surpresa feliz e habitual de alguém que era recebido com balões e bolo na manhã do seu aniversário de dezessete anos.

– Alguma coisa errada? Você é alérgico a morangos?

Perguntei fitando o cupcake vermelho com a velha acesa e faiscante.

– Não – disse ele retomando a postura – Ironicamente a única coisa que sou alérgico é penicilina, não a doces.

– Então, feliz aniversário de novo.

Respondi sorrindo.

Sébastien pegou o cupcake e eu coloquei os balões sobre a cama e sentamos.

– Obrigado.

Bruxos&Demônios, vol. I - Fumaça&CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora