Capítulo XIV: Cães de caça do diabo

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Lexa

Mesmo que uma boa parte da minha mente tivesse tamanha certeza que aquilo era só um pesadelo, outra parte dela estava aterrorizada demais para raciocinar e só pensava em correr. E correr muito.

Não sei exatamente onde estava.

A escuridão era quase perfurante. Havia estrelas no céu, mas não havia lua. Enquanto corria, postes de iluminação ou qualquer outro tipo de coisa que emitisse luz, se acendiam.

Os sons de rosnados e de patas quebrando o concreto do chão ao correr era tão alto que parecia estar acontecendo ao meu lado.

Meu corpo corria esbarrando em pessoas invisíveis.

Uma onda de pavor, medo, terror, culpa, ódio e raiva, preenchia meus pensamentos. Eu sabia que aqueles sentimentos não eram meus, mas sim emanadas do animal que corria atrás de mim.

Tentei criar algum tipo de obstrução no caminho atrás de mim, jogando latas e caixotes de lixo no chão com minha mente, mas tudo parecia tão inútil que chegava me dar vontade de rir.

Então eu tropecei.

Meu tornozelo tinha sido deslocado. E minha testa tinha agora um arranhão que escorria sangue, esse que pingava no chão criando um som de eco gotejante.

Então o som dos caixotes sendo quebrados se fez. Já não sabia mais dizer se eram um ou vinte daquelas coisas atrás de mim. Mas quando já era tarde demais para me levantar, ele saltou, com seus dentes brilhantes, corpo de fumaça negra do tamanho de duas motocicletas.

E a última coisa que senti foi suas presas perfurando a carne do meu corpo como se queimasse ao toque. Então cai de novo. Mas dessa vez na minha própria cama, gritando aterrorizada.

Dois braços me seguraram.

– Está tudo bem, foi só um pesadelo.

Disse Cecilly tentando me acalmar.

Forcei minha respiração a se romper, a falta de ar criou uma lógica real na minha cabeça e a sanidade voltou ao meu corpo soado.

– O que aconteceu?

Perguntei tentando entender.

– Você estava levitando na cama quando eu acordei. Gritando. Com medo. Tentei acordar você, mas você não acordava. Depois seu corpo simplesmente despencou e começou a gritar.

Cecilly me encarava com um olhar preocupado, mas ela não estava muito melhor que eu.

– Intoxicação alimentar novamente?

Perguntei sorrindo, tentando achar graça nisso tudo.

– Mais ou menos.

Respondeu, escondendo alguma coisa.

– Como meu irmão diz, esse lugar é o epicentro da magia americana, não há nada normal aqui. Nem nós.

– Você precisa tomar um banho.

Ela acrescentou.

– Sim. Eu vou.

– A propósito as aulas de hoje foram canceladas, vai ter um anuncio depois do café da manhã.

– O que houve?

– Não faço à menor ideia. O comunicado estava colocado na nossa porta quando acordei. Agora eu já vou, precisa de alguma ajuda?

– Não, obrigado. Até depois.

Cecilly havia abandonado o seu macacão inseparável e estava de saia, blusa e all star. E logo não estava mais no quarto.

Bruxos&Demônios, vol. I - Fumaça&CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora