Capítulo 7

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VISÕES

Liza

Pareceram-me horas de discussão até que Amanda desistiu. Ela disse, sem a menor convicção, que realmente só havia namorado crápulas e todas as namoradas de Ben foram deusas. Ele quis comemorar a vitória, é claro. Duas horas e alguns drinks depois, fomos para casa.

Encontrei o quarto de Raquel vazio. Para variar, ela desapareceu sem me avisar nada. A cada dia se tornava mais difícil controlá-la. Os amigos dela eram um mistério, ninguém os conhecia. Ela mantinha o ritual de chegar tarde. Não dava satisfação e se recusava a mostrar algum respeito ou gratidão. Até Ben e Amanda, tentavam me ajudar quando possível.

Convenci-me de que era apenas uma fase ruim de adolescente. Que nada poderia ser melhor que o tempo para que ela amadurecesse e superasse a perda dos nossos pais. Não que eu acreditasse que o desaparecimento misterioso fosse algo possível de superar, mas a única maneira de seguir em frente, seria tentando aceitar. O que eu fazia diariamente, mesmo falhando em todas as tentativas pelos últimos seis meses. Aparentemente para Raquel, esse dia apenas se distanciava...

Peguei o celular e liguei para minha irmã. Talvez, um milagre a fizesse me contar onde havia se enfiado. Antes que eu completasse a ligação, o aparelho vibrou na minha mão.

— Oi, você é a Liza, irmã da Raquel?

— Sim, sou eu. Está tudo bem? — ouvi o som de muitas risadas ao fundo.

— Sim, é que... Ah... Nós estamos colocando a Raquel em um táxi. Você pode esperar por ela na porta da sua casa?

— Sim. Claro. Obrigada por cuidar dela. Qual o seu... — Desligaram, antes que eu concluísse a frase.

Sai de casa angustiada, sentei na varanda e esperei por minha irmã. Roí todas as unhas. Meia hora depois um táxi estacionou na frente da casa e uma pessoa saiu cambaleando do carro. O taxista saiu pela porta do motorista e gritou furioso:

— Ei! Você tem que pagar a corrida!

Apressei-me para chegar até ele e paguei gastando toda a gorjeta que havia recebido no trabalho. De onde esse táxi veio para ficar tão caro?

— Eu não irei mais tolerar isso! — gritei desesperada para as costas de Raquel, que subia os degraus da varanda.

Eu havia tentado me reaproximar dela de todas as maneiras. Não sabia mais o que fazer e conversar não estava adiantando.

— Vocêêê não preciiiiisa. Saaaaaabe por quê? — Ela se virou e rebateu com a voz arrastada. — Você não teeeem e nuuunca vai terrrr nenhuuum contrrrooole ou poderrrr sobre mim, entendeeeu? Euuu faççço o que euuu bem quiserrrr. Vocêêê não pode me impeeedir.

— Por que você faz isso, Raquel? Nós somos irmãs. Você gostava de mim, lembra? Você acha que eu tenho alguma culpa pelo que aconteceu com mamãe e papai? Você pensa que eu também não queria sair por aí e encher a cara, fazendo o que eu bem entendesse?!

— Aaah! Pare de ssse fazer de poooobre coitada! Eu odeiiio quaaando faz iiiisso! — Raquel falava como se tivesse acabado de colocar aparelho nos dentes.

— Eu me preocupo com você! Só isso! Não sei se você já percebeu, mas nós somos a família uma da outra. Você só tem 16 anos! Tem frequentado as aulas, pelo menos? Por que caso não tenha percebido, se quiser ficar livre de mim, terá ao menos que terminar o colégio para conseguir um emprego e se mandar.

— Eu nããão preciiiiiiso de vooocê.

— Ah não? Então vamos fazer um acordo, agora! A partir de hoje você pode fazer o que bem entender! Eu prometo não me meter, contanto que, pelo menos me avise que está viva! E não me peça mais dinheiro! Certo?

O Penhasco - Livro 1 - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora