O SONHO
Um mês depois...
Liza
Meu corpo viajou em uma velocidade que julguei impossível de ser alcançada por um humano. Não registrei cores, sons, aromas ou qualquer sinal de vida. Tudo girou em borrões. O mundo se moveu com muita pressa, como naqueles sonhos em que caímos em um túnel sem conseguir parar. O mais estra- nho foi que a sensação era de estar subindo. Quando comecei a ficar enjoada, a subida bruscamente parou. E o cenário à minha volta, mudou. Senti chão firme debaixo de meus pés. Olhei para baixo.
Grama?
Regulei a respiração. Tentei controlar o enjoo. Olhei para o horizonte e abri a boca, incrédula. Como cheguei sozinha no topo de um Penhasco?
Caminhei hesitante até a beirada onde vislumbrei o mar batendo furio- samente nas rochas, tão alto que me provocou frio no estômago. Subi os olhos e registrei lentamente seus detalhes. O lugar era lindo, majestoso. À frente do Pe- nhasco, três colinas baixas formavam um semicírculo. Criava a impressão de que as colinas serviam ao Penhasco, como se existisse algo mais naquela formação, oculto e grandioso!
Como eu sairei daqui?
Mas por que eu sairia? Estou sozinha e este é o lugar mais bonito que já estive em minha vida!
Escutei o som das ondas, o vento me abraçou com sua brisa fresca. Ape- sar de não fazer a menor ideia de onde me encontrava, me senti confortável e despreocupada, mesmo com o algo estranho no ar. Mesmo com uma sensação de olhos em minhas costas. Observei a imensidão do mar no horizonte e con- templei as rochas. Foi como se eu abrisse os olhos pela primeira vez. Tudo era tão vivo, de uma coloração tão palpável. Até o ar, se comparado ao de outro lugar, era mais leve à minha respiração. Eu inspirava e recebia de presente o aroma doce e sutil das folhas, misturado à grama, aos meus pés. Havia um leve cheiro de terra molhada.
Parecia mágico.
Permiti-me ficar um tempo assim, em estado de deslumbramento. Ad- mirei as cores, as plantas, os pássaros, e a majestosa árvore que me protegia do sol forte.
Definitivamente, o sonho mais lindo que já sonhei.
Após me habituar à visão sublime, recostei minhas costas no tronco da bela árvore e fui invadida por uma sensação morna, me senti dormente. Minutos depois, comecei a ficar sonolenta, sob a calmaria daqueles galhos...
Sobressaltei-me quando o ambiente se agitou de súbito. Lembrou-me da ventania que antecede uma tempestade.
O vento rugiu furioso em meus ouvidos, balançou meus cabelos soltos, os pássaros voaram assustados. As ondas quebraram nas rochas com tanta força, como se tentassem escalar o Penhasco. Se uma rajada de chuva caísse, eu não teria para onde fugir, mas mesmo sendo um pouco assustador, não pude deixar de interpretar como um grito da natureza. Um grito para mostrar a mim que a partir daquele momento em diante, minha vida nunca mais seria a mesma.
Estranhei meu próprio pensamento, mas dei de ombros, de tão relaxada.
Fiquei de pé e inspirei o ar com força, cerrei os olhos e abri os braços. Senti um tipo desconhecido de poder, uma espécie de força, ou vibração, trazida pelo vento. Repeti o gesto algumas vezes. Até que ao expirar e abrir os olhos, eu me deparei com um homem a um palmo do meu rosto.
Ele permaneceu imóvel. Era semelhante a uma estátua de um anjo, cui- dadosamente moldada, dono de uma beleza indescritível. Meus joelhos amole- ceram, escorreguei e caí no chão devido ao susto. Ele me estendeu a mão. Fiquei sem reação durante certo tempo, congelada na minha surpresa.
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O Penhasco - Livro 1 - Completo
FantasiaSinopse: "Teria sido uma noite como qualquer outra, se ele não tivesse aparecido. E se eu não estivesse completamente sozinha. Com um estranho em um Penhasco e sem lembrar de como fui parar ali. Me assustei quando ele se materializou à minha frente...