Capítulo 16

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EUFORIA

Liza

Ao ouvir o despertador tocar, me senti como se tivesse acabado de dormir. Apesar de não ter descansado quase nada, levantei eufórica.

Hoje seria o dia do meu encontro oficial com Nathaniel. O dia D. Hoje tudo se tornaria realidade. Ou será que eu acabaria sozinha na mesa, esperando por alguém que não existe?

Torci para que a primeira opção se concretizasse. Não que acreditasse de verdade que, em algum momento do futuro, eu o veria como se fosse normal. No mínimo, ainda estaria sonhando, só que mais consciente de sua existência.

Sabia que chamaria a atenção se passasse o dia todo esticando o pescoço para olhar o relógio de parede. Então, procurei pelo relógio de pulso da minha mãe. O mesmo usado por ela um dia antes do desaparecimento. Ainda não havia mexido em nenhuma das malas dos meus pais, apenas joguei-as no fundo do meu armário. Gostava de pensar que eles mesmos cuidariam delas quando voltassem. Por sorte, encontrei logo na primeira mala. Abri a nécessaire que ela sempre levava nas viagens e segurei o relógio. Meus olhos se encheram de lágrimas, pela saudade que apertou meu peito. O relógio era lindo, mamãe tinha muito bom gosto. A pulseira era de couro branco e no mostrador, havia o desenho de uma flor de lótus.

Muito nervosa para engolir qualquer coisa, me vesti e sai apressada. Entrei no ônibus para ir ao trabalho, pois queria chegar logo. Quanto antes começasse a trabalhar, menos contaria os segundos até o encontro. Isso foi o que eu pensei.

Ao chegar ao trabalho, cumprimentei todos e decidi passar o café. Bati a mão na testa, ao me dar conta de que me esqueci de levar o vestido que usaria mais tarde.

Ai, e agora? Como posso ter esquecido?! Com certeza ele estará impecável, e eu, vou estar com essa roupa velha que uso para trabalhar todos os dias! Talvez eu possa pedir a Amanda para trazer o vestido para mim. Melhor não. Se eu pedir, ela vai ficar toda animada e depois vai querer saber de todos os detalhes. Prefiro ter certeza de que ele é real, antes de envolver alguém. E Ben? Não. Ele é bem capaz de fazer alguma piada, perguntando se eu também vou precisar de outra calcinha.

Tentei me convencer de que minha preocupação era besteira. De que Nathaniel não notaria, mas tive meus pensamentos interrompidos pela Senhora Barbara, que me tocou levemente no braço. Na verdade, eu o apoiava na bancada da cozinha, que transbordava café para todos os lados.

— Desculpe, senhora Barbara! — pedi sobressaltada ao ver a lambança.

— Tudo bem, acontece. Você está com algum problema?

— Não! Estou ótima! Só me distraí por um instante — falei rápida como uma bala e andei até a porta ao ouvir o tilintar que sinalizava a entrada de clientes no restaurante.

Usar o relógio justo naquele dia não foi de grande ajuda. Olhei obsessivamente para o pulso e cheguei a verificar a hora com todos os funcionários, para ter certeza de que o meu não estava com defeito. Finalmente, após o que me pareceram anos de espera, o ponteiro se aproximou das seis horas. Minha pele começou a formigar, efervesceu. Minha testa umedeceu pela ansiedade. Eu andava de um lado para o outro, aflita.

Péssima ideia pedir que me buscasse no trabalho! Deveria ter marcado em casa, eu teria tempo de tomar banho e me produzir. Não. Ben e Amanda me veriam saindo arrumada e me fariam perguntas, melhor assim mesmo.

Observei, pela janela, uma limusine estacionar. Estranho. Um homem desceu vestido para uma noite de gala e se encaminhou à porta da frente. Ele vestia smoking preto e luvas brancas. Quando me viu parada, encarando-o boquiaberta, perguntou:

O Penhasco - Livro 1 - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora