Capítulo 9

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TENTATIVA

Liza

Encostei o ouvido na primeira porta. Esperava ouvir algum som que indicasse uma festa. Nada. Toquei a campainha. Um minuto depois, toquei novamente. Silêncio.

Passei para a segunda porta, onde também não se ouvia nada. Toquei três vezes seguidas dessa vez. Um senhor, de rosto mal-humorado, girou a maçaneta e grunhiu impaciente:

— O que você quer?

Ele me encarou por um segundo, depois bateu a porta com força.

Não tem jeito! Não tenho tempo para ser educada, muito menos paciente.

Corri com os braços abertos pelo corredor e apertei todas as campainhas freneticamente. Parei e esperei próxima da última porta do fim do corredor, de onde teria uma visão panorâmica. Um minuto depois, quatro cabeças me encaravam, de quatro portas diferentes. Então, eu a vi.

Uma das meninas que foi ao restaurante. Ela e sua fantasia de bruxa me encararam de volta. Arregalou os olhos, de um tom azul que não me convenceu. Pareciam lentes de contato, não combinavam com seus cabelos ruivos e curtos, em conjunto com a pele levemente bronzeada. Ela me reconheceu. Já o traje que vestia, definia perfeitamente a sua personalidade.

Tentei mostrar indiferença e caminhei lentamente em sua direção. Precisava convencê-la de que talvez, tivesse sido convidada. Ela não podia fechar aquela porta.

— Posso entrar? — perguntei na ponta dos pés. Espiei dentro do cômodo, repleto de adolescentes fantasiados, segurando copos vermelhos de plástico.

— Gostosuras ou travessuras? — perguntou, cinicamente.

Mordi a língua para não dar a resposta que desejava. Resolvi abandonar o fingimento.

— Poderia chamar a Raquel, por favor?

Com um sorriso de deboche, a entonação do "não" soou como alguém muito satisfeito com o que estava fazendo. A bruxa bateu a porta na minha cara!

***

Dentro do apartamento

Stephanie

— Meninas! Meninas! Rápido!

Stephanie reuniu as amigas, que sabiam do plano, no canto do apartamento.

— A irmã da Raquel está aí fora — avisou dividida entre medo e diversão, era uma amante do caos.

— Como assim?? Como ela soube dessa festa? Ou pior, como descobriu esse endereço?!

— Nós temos que agir rápido antes que ela estrague tudo! — Stephanie reforçou.

— Mas o que vamos fazer? Anthony já está com a Raquel, ela já tomou o nosso drinque batizado. Agora, temos que esperar! — disse uma das meninas, nervosa.

— Já sei! Eu vou arrumar uma desculpa para a Raquel subir comigo até o quarto. Vocês duas, façam a mesma coisa com o Anthony. Assim que ele subir, nós os trancamos. Depois, descemos e aumentamos o som — Stephanie concluiu com um brilho de vitória nos olhos.

— Stephanie, você não acha que está levando isso muito a sério? Quer dizer, com a irmã dela ai fora, isso começa a ficar perigoso. Ainda mais agora, ela obviamente ficou desconfiada, já que você não a deixou entrar.

— Você, como sempre, está querendo amarelar, porque tem medo de levar a culpa por alguma coisa. Pode deixar, se ela começar a fazer muito barulho lá fora, chamamos o porteiro e encontramos um jeito de expulsar ela daqui! — rosnou.

— Faça o que quiser, então. Mas não consigo entender, por que o que era para ser divertido, se transformou em uma obsessão para você.

Stephanie ignorou o comentário. Precisava apenas que seguissem suas ordens. Havia algo maior em jogo. Algo que ninguém suspeitava.

E essa não foi a primeira vez que vi os humanos, sucumbirem em suas fixações.

***

Liza

Perdi totalmente a noção dos meus atos. Entreguei-me ao pânico. Esmurrei a porta. Berrei do lado de fora. Os vizinhos perderam a paciência.

— Olha, eu não sei qual é o seu problema e sinceramente nem quero saber! Mas se você continuar com esse barulho, chamarei a polícia!

— Me desculpe, mas é uma emergência!

— Eu entendo. Realmente uma festa de sábado à noite pode mudar a sua vida! — retrucou o vizinho sarcástico.

Na realidade, podia de fato, mudar.

Como Raquel reagiria a isso?

Eu não gostava nem de imaginar. Eu jamais superaria a culpa de ter chegado tarde, se Raquel fosse traumatizada dessa forma.

E agora? O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço?

De repente uma luz invadiu meus pensamentos com uma palavra proferida pelo vizinho: "Polícia".

Claro! Como não pensei nisso antes? Eu chamo a polícia, alego uma reclamação de barulho. Eles acabam com a festa, porque está cheia de menores de idade e bebida alcoólica! Perfeito!

Peguei o celular no bolso e disquei. Pulei de ansiedade com a expectativa. Chamou três vezes.

— Boa noite. Tenho uma reclamação a fazer.

— Como posso ajudá-la? — perguntou uma policial.

— Estão fazendo uma festa muito barulhenta no apartamento ao lado. E tenho certeza de que está cheia de menores de idade!

— Sinto muito, senhora. Nós ainda não entramos no horário de silêncio, só poderemos intervir dentro de meia hora.

— Mas e quanto aos menores de idade? Eu mencionei que há bebidas nessa festa?!

— Por favor, senhora, ligue novamente se o barulho persistir. — A policial desligou.

Meia hora? Em meia hora será tarde demais!

E tudo o que tenho a fazer é ficar aqui fora, esperar a minha irmã sair devastada e confirmar todos os meus medos.

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Oláá, e aí? O que acharam? Será que a Liza conseguirá salvar a Raquel?


O Penhasco - Livro 1 - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora