Capítulo 52

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A PROFECIA

Nathaniel

O esforço que eu fazia para não pensar em Liza sozinha, nublava-me o raciocínio.

Espero que ela cumpra a promessa e espere até eu retornar.

O Penhasco era o lugar mais seguro no momento, talvez o único. Após o ocorrido com o anel de noivado, tive certeza de que o algo ruim atrás de Liza, talvez fosse pior que a morte.

Mesmo receoso com o que poderia descobrir, cruzei os grandes portões pretos de ferro do orfanato, Alis Angeli. Irmã Daiana era minha única esperança, e eu jurei a mim mesmo que seria a última vez que a importunaria com os meus problemas.

Meus instintos me disseram para ir até a capela, e lá, para minha sorte, a encontrei.

Sentei-me silenciosamente no banco de madeira ao lado dela, e aguardei que terminasse sua oração.

— Meu filho — disse com alívio, antes que eu sequer a tocasse. — Que bom que está aqui.

Às vezes ela parecia mais anjo do que eu mesmo me sentia. Eu a abracei e me senti novamente uma criança em seus braços.

— Irmã, desculpe-me por mais uma vez trazer problemas meus.

A fragilidade dela me comovia, mas era internamente que de fato ela sofria. Eu sentia a sua dor. Talvez seu motivo fosse o mesmo que o meu. Porém, o medo dela era o de contar, o meu de descobrir.

— Venha, meu filho, vamos dar uma volta. — Tomou o meu braço como apoio e se moveu com dificuldade.

Caminhamos em silêncio até o terraço vazio.

— Precisamos conversar, filho. — Irmã Daiana sentou-se. Seu olhar, apesar de branco, ainda me atingia como um dos mais sinceros que já vi. — Sinto muito por tudo que estou para lhe contar, na verdade, deveria tê-lo feito há muito mais tempo, mas me acovardei quando tive a chance.

Então ela sabia, nem precisei perguntar.

— Sou eu quem deve desculpas. Tantos anos se passaram e ainda estou aqui, trazendo preocupações.

Ela meneou a cabeça e me indicou o espaço vazio a seu lado.

— Chegou a hora de saber, meu filho. Sei que está preparado.

— Sim, irmã, eu estou pronto. — Meu coração acelerou dolorosamente.

Ela começou a falar. Sua explicação seguiu longamente:

— Na última vez que vi sua mãe, ela me confidenciou todo o conhecimento dela sobre os anjos. Para que eu um dia, pudesse alertá-lo. Depois deste dia, passei a pensar tanto no Penhasco, que ouso dizer saber como se parece. No mínimo, é belo como o amor de seus pais. Pois foi o sentimento deles que trouxe de volta à vida os espíritos das águas, as Narinis, as almas puras que habitam as cachoeiras que você vê no Penhasco. Espíritos que através das águas, limpavam todas as maldades ali julgadas. Mas não eram úteis para purificar injustiças, e assim partiram, no dia em que seus pais foram julgados por traição, pois o Conselho agiu com covardia. Sabiam que a maior fraqueza de seu pai era Isabel. Um anjo, quando encontra seu propósito, sua metade, encontra também sua ruína. Pois depois que o conselho assinou o tratado, todos os anjos que se envolvessem com as filhas dos homens pagariam sua dívida à Morte. Eles descobriram tarde demais que não poderiam fazer acordos com Morte. A mãe do vazio. A verdade que descobri recentemente é o que me traz aqui, agora. Infelizmente, a profecia da alma negra é real. Morte nunca teve a intenção de aprisionar seu Guardião, a Alma Negra. Diz a história que a Alma Negra nunca recebeu uma chance. Veio ao mundo condenada à dor, ao sofrimento, ao vazio. Alguns falavam que foi um humano, outros diziam que nasceu com poderes capazes de assustar o homem mais valente. No início, ele seria um enviado à Terra para perpetuar o bem. Mas algo deu errado, e dor foi tudo que trouxe e tudo que colheu. Muitos nomes ela já teve. Viveu entre reis e muito penou.

O Penhasco - Livro 1 - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora