Capítulo 58

5.2K 568 45
                                    

A CERIMÔNIA

Liza

Engoli meu grito e corri até o quarto. Quase chorei de alívio quando vi Nate abrindo a porta. Ele me abraçou e eu não consegui esconder meu pânico pela presença na sala. Ele sentiu. Quando me soltou, a ternura de antes em seus olhos foi substituída por fúria.

— Fique aqui! — ele rosnou antes de sair do quarto.

— Nate, não! Não sabemos o que pode ser!

Insisti angustiada, mas ele foi muito rápido. Apenas ouvi os passos dele ressoarem nas escadas e o segui. Eu nunca mais teria paz se algo lhe acontecesse. Algo que eu pudesse impedir.

Senti uma forte pressão no peito com o silêncio sepulcral na sala vazia. A ausência de som pareceu se instaurar em minha alma. Gritei seu nome desesperada:

— Nate, Nate, Nate! Por favor!

Vasculhei a cozinha, o banheiro. Nada. Ninguém.

Girei a maçaneta e, ao sair na varanda, quase desfaleci.

— Nate!

— Liz? Eu disse para me esperar no quarto. Poderia ser perigoso!

— Eu nunca vou conseguir fazer isso, Nate. Não adianta insistir.

Ele franziu o cenho e enterrou as mãos na cabeça. Pareceu lutar para voltar ao controle. Nate suspirou e em seguida acariciou meu rosto com o polegar. Quando falou, foi com a voz cansada:

— Você precisa confiar em mim, Liz. Por agora não há mais nada aqui. Mesmo assim, eu acho melhor passarmos essa noite no Penhasco.

Assenti e o abracei. Seu corpo quente e seu perfume trouxeram minha alma de volta.

Deitei-me debaixo da árvore com uma falsa sensação de paz, somente por tê-lo ao meu lado.

Antes de adormecermos, ele me disse que suas buscas não resultaram em nada. Nada capaz de nos ajudar. Havia uma parede de dúvidas erguida à nossa volta. Meu cérebro fritou até o sono chegar. Fui vencida pelo cansaço.

Sonhei com um lago, um dos lugares mais lindos que já vi. Cercado por altas montanhas, cachoeiras jorrando água em abundância, contornado por flores brancas e roxas, que formavam um círculo a sua volta. O único som era dos pássaros e das águas caindo. Dezenas de flores boiavam na água. Fui tomada por uma intensa vontade de mergulhar. Eu me despi e toquei a água com a ponta dos pés para checar a temperatura. Estava morna. Ansiosa, me preparei para mergulhar, mas hesitei quando vi algo escuro no meio das flores, emergindo do centro do lago.

Lentamente uma cabeça surgiu. O corpo de uma mulher apareceu quando ela subiu até a superfície, flutuou sob a água e veio em minha direção, como fumaça jogada pelo vento. Seus cabelos estavam presos em uma trança que quase alcançavam seus pés, o manto azul que vestia, reluzia com o sol.

— Venha Liza — sussurrou sedutoramente.

Acordei de sobressalto com Nate aflito. Ele me sacudiu pelos ombros:

— Liza, precisamos voltar. Sinto que alguma coisa errada aconteceu.

Chegamos ao meu quarto e ouvi um telefone tocando. A manhã cinza entrava com força pela janela.

Nate pegou o celular na cabeceira. Escutou muito sério o que diziam do outro lado. Vi seus ombros se enrijecerem. Sem dizer nada, ele desligou e se deixou cair sentado na cama, de costas para mim.

Pulei no colchão para ficar ao seu lado. Ele não se moveu. Notei uma gota brilhante se formar no canto de seus olhos, ele se esforçava para contê-la.

Meu coração pesou por vê-lo daquela maneira, tão concentrado na luta com suas emoções e tão desesperado para se deixar senti-las.

Fiquei de pé na sua frente. Ele baixou o rosto. Evitou meu olhar. Eu também temia ver suas esmeraldas em chamas. Passei minhas mãos por seus cabelos negros. Nate me puxou para mais perto e me abraçou pela cintura. Ele repousou a cabeça na altura do meu estômago. Ficamos envoltos no morno, até o quente se espalhar por nossa pele. Eu poderia ficar ali para sempre. Ele suspirou por um longo tempo e ergueu o rosto para mim:

— Irmã Daiana faleceu. — Notei o quanto ele sofria. Sua dor se tornou a minha. Eu queria poder abrir seu peito e tirar aquele sentimento lá de dentro, mas por experiência própria, eu sabia que a ferida era do tipo que não cicatriza.

— Eu sinto muito. — Enterrei os dedos em seus cabelos. Ele parecia tão desolado.

Nate se levantou após algum tempo e andou de um lado para o outro. Sua expressão já quase de volta ao normal. Ele assumiu sua versão prática e de ir direto ao ponto. Mas eu ainda sentia a ferida doer no peito dele.

De repente ele parou e me encarou com outro tipo de tristeza. Seus olhos estavam cinza.

— Como posso deixar você aqui e ir ao enterro? — Ele tomou minhas mãos e senti a sua angústia de escolher entre me deixar e ir ao funeral.

— Por que não posso ir com você?

— Não quero que você fique exposta. Hoje é dia 31, Liz.

— Será seguro se eu estiver com você — argumentei sabendo que não adiantaria, eu nunca venceria essa discussão.

— Não. Não posso ir. Só preciso fazer uns telefonemas. — Ele voltou a andar de um lado para o outro no quarto. Entrei em seu caminho e ele parou.

— Vá. Eu vou ficar bem. Não se apresse, passarei o dia no Penhasco, depois irei para a cerimônia de Raquel, acredito que até lá, você já terá retornado.

Ele me olhou por muito tempo em silêncio. O cenho franzido, a respiração pesada. Parecia lutar com o desejo de ficar, mas cedeu.

— Eu não demoro. — Ele entrelaçou seus dedos em meu cabelo, pousou sua mão em minha nuca e me puxou para um beijo. Meu estômago gelou. Os lábios de Nate estavam quentes, o beijo teve gosto de adeus. Eu o vi por mais um segundo, antes que desaparecesse como ar a minha frente.

Meu quarto ficou com os vestígios do brilho dourado de sua presença.

Um leve aroma de sal, de terra, e de orquídea, se intensificava a cada segundo. Fui para o Penhasco com o fio de esperança que eu guardava ameaçando se romper. Com o coração partido pela perda de Nate. E muito enjoada por supor o que poderia acontecer essa noite se ele não retornasse a tempo.

____________________________________________________________________________________

Oláá, e aí? O que estão achando? Comentem!

Viram que meu outro livro, Olhar de Fogo está de graça na Amazon? Teve um erro no site e a promoção continua valendo até a meia noite! Aproveitem para baixar!

Quem avaliar o livro lá depois, ainda vai ganhar botton e marcadores! \o/

Beijosss  e bom restinho de domingo

O Penhasco - Livro 1 - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora