CEMITÉRIO
Liza
Eu não soube bem o porquê, mas acabei concordando que o Delegado Machado viesse comigo. Talvez fosse pela pressa, talvez eu estivesse morrendo de medo. Eu só sabia que nenhum dos dois iria me impedir.
Ele dirigia em silêncio, havia desistido de arrancar algo de mim, já que o pouco que eu sabia não poderia dizer e não conseguia encontrar uma razão para alguém desejar ferir Raquel.
— Liza, eu sei que não quer conversar agora, mas é meu dever lhe orientar. — Usei todas as forças que me restavam para prestar atenção nele. — Qualquer ser humano, com um pouco de bom senso, sabe que não se entra em um cemitério à noite, sendo uma mulher indefesa e muito menos quando orientado por um bilhete ameaçador.
— Tem razão, Delegado Machado. Mas o que faria no meu lugar?
— Procuraria ajuda.
— Fico feliz de ter encontrado você — menti tentando acabar com a conversa. Ele pareceu um pouco mais satisfeito e amaciou a voz:
— Eu não acredito que iria realmente se enfiar sozinha no Jardim dos Anjos no meio da noite. Nunca ouviu dizer que é assombrado? Não que eu me preocupe com isso, mas imaginei que você... — Ele hesitou em concluir a frase, provavelmente imaginava que eu teria medo.
— Eu não acredito em assombrações, aliás, não tive tempo para raciocinar. Eu não sei o que estou fazendo e não entendo o que está acontecendo! — Tirei a máscara do rosto e encostei a testa no vidro gelado da janela.
— Confie em mim e faça exatamente o que eu disser — disse pausadamente, enquanto manobrava o carro na entrada do cemitério e seu rosto se agravava.
Somente balancei a cabeça. Tinha muitas dúvidas e sabia que não teria tempo de respondê-las. Precisava agir rápido contra o que quer que nos aguardasse.
Meu sangue ardeu ao imaginar o que teria acontecido a Nate. Eu precisava não pensar nele e me manter sã. Seria tão difícil quanto parar de respirar por conta própria.
Esperei no carro conforme a orientação do Delegado Machado. Ele circulou a área segurando um revólver apontado para baixo. Provavelmente pensava em alguma maneira de se livrar de mim. Era o mesmo que eu pensava, pelo menos.
Desci do carro e me senti com vendas brancas cobrindo minha vista. No tempo de um piscar de olhos, as nuvens tinham descido do céu. Estiquei minha mão à frente e não consegui enxergá-la.
— Delegado Machado? — sussurrei. — Você está me ouvindo?
— Liza, o que faz aqui? Esse lugar é perigoso! — me respondeu a voz de Ethan. Ouvi passos se aproximando.
— Ethan? É você? — Tateei pelo ar. Nuvens brancas passaram entre meus dedos. O silêncio foi minha única resposta.
Continuei ouvindo passos no asfalto, mas não havia ninguém ali. Andei de forma desajeitada no que eu esperava que fosse em direção à entrada do cemitério. Um vento forte e repentino fez com que a neblina se atenuasse um pouco e pude enxergar onde me encontrava: Debaixo dos portões de ferro do Jardim dos Anjos. Acima das grades havia duas estátuas brancas, em tamanho real, de crianças com as cabeças abaixadas, penduradas no portão, como se tentassem sair dali. A imagem me causou um arrepio na nuca. Abaixo delas, os dizeres em letras de ferro:
"A morte habita, onde há vida. Aqui jaz o nada, para que não seja bem-vinda. Se aqui entrar sem convite, só sairá ao pagar."
Tentei ignorar o fato de que acabei de ler uma inscrição em latim e compreendi. Parecia um péssimo presságio.
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O Penhasco - Livro 1 - Completo
FantasySinopse: "Teria sido uma noite como qualquer outra, se ele não tivesse aparecido. E se eu não estivesse completamente sozinha. Com um estranho em um Penhasco e sem lembrar de como fui parar ali. Me assustei quando ele se materializou à minha frente...