O DIA DA OFICINA
11 de junho de 1999, Los Angeles, Califórnia.
Marie
Estavam a caminho do seu destino. Aquele que, talvez, salvasse sua filha. Mas o motor do carro parecia engasgado. Assim, deixaram suas meninas no hotel, pararam em um posto de gasolina e pediram informação a um senhor que enchia o tanque.
Ele lhes passou um endereço, não muito longe dali, e voltou a seu carro aos tropeços, parecia bêbado.
Marie queria se deitar e resolver o problema na manhã seguinte. Paul insistiu que não deveriam atrasar o resto da viagem. Não poderiam desperdiçar tempo. Liza havia acabado de completar 21 anos.Muito tempo havia se passado desde o nascimento de sua filha, e daquela previsão macabra, recebida ainda na maternidade. Apesar da data e da sensação de espreita pairando no ar, Marie duvidou por um segundo, que as sombras realmente viessem.
Seguiram para o endereço da oficina e estacionaram o carro em uma rua deserta. Não parecia haver nada ali. Marie se convenceu de que o bêbado deu a informação errada.
Quando Paul já concordava em partir para o hotel, a porta de uma garagem se abriu.
A oficina era mal iluminada, empoeirada. Uma televisão pequena no canto era o único som vindo de dentro daquele lugar. Algumas maletas e ferramentas se espalhavam pelo chão, uma escada velha de madeira levava ao segundo andar.
Marie não soube dizer o motivo, mas o lugar lhe causou frio na espinha. Mesmo assim, desceu do carro seguindo Paul, seu marido.
O homem, que pelas vestes deduziu ser o mecânico, levantou a porta da garagem e abriu um sorriso. Ele limpou as mãos sujas de graxa em um pano e o guardou no bolso. Depois esticou a mão para apertar a de Paul:
— Boa noite, sou Gilbert, como posso ajudá-los? — Para Marie ele sorriu, como se dissesse que não a cumprimentaria porque não desejava sujá-la.
— Acho que há algum problema com o motor — Paul explicou.
— Hummmm. — Gilbert alisou o queixo, saiu da garagem e abriu o capô do carro, ali na rua mesmo. — Vou precisar trocar algumas peças, mas acho que deve ficar pronto hoje.
— Ótimo. Pode nos dar um telefone? Ligaremos em algumas horas para saber se está pronto. Desculpe-me, mas é que estamos precisando mesmo de um bom banho e cama — Marie falou docemente.
— Claro! Só preciso que preencha alguns formulários autorizando a troca das peças.
Gilbert passou a mão no ombro de Paul amigavelmente e o levou para os fundos da oficina. Paul não hesitou. Os dois, automaticamente, começaram a conversar em linguagem de carros.
Marie decidiu sair com a desculpa de comprar um lanche. Na verdade não sentia fome, precisava apenas sair daquele lugar. Sentia-se sufocada e não enxergava com clareza. Não achou que pudesse se perder, afinal, a lanchonete que viu no caminho ficava duas ruas à esquerda.
Diferente das ruas com palmeiras, iluminadas e movimentadas de Los Angeles, aquela área parecia pertencer a outro lugar, não se encaixava ali. Havia casas com aspecto de abandono, e poucas pessoas na rua. Na verdade, ninguém na rua.
Sentou-se junto ao balcão, e subitamente pensou que seria melhor se demorar mais um pouco por ali. Paul adorava tudo que fosse relacionado à mecânica. Deveria estar se divertindo enquanto enchia Gilbert de perguntas.
Uma hora se passou e ela achou que era tempo o suficiente. Ligou para o celular de Paul. Desligado. Esperou alguns minutos. Tocou repetidamente, ninguém atendeu.
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O Penhasco - Livro 1 - Completo
FantastikSinopse: "Teria sido uma noite como qualquer outra, se ele não tivesse aparecido. E se eu não estivesse completamente sozinha. Com um estranho em um Penhasco e sem lembrar de como fui parar ali. Me assustei quando ele se materializou à minha frente...