Capítulo 25

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AS CARTAS

Liza

Preenchi cada segundo livre do meu dia com o rosto de Nathaniel. Chegava a sorrir quando o via. O vazio hoje não atacou com a força habitual. Já as possibilidades por vir das previsões de madame Nadja, me deixavam inquieta.

Amanda ligou e me informou o endereço. Combinamos de nos encontrar às oito horas da noite. Entrei no táxi com o coração martelando. A verdade é que mesmo sem acreditar em clarividência, sempre temi essas previsões do futuro. Ainda mais agora, que eu conhecia o meu maior medo. E se ela me revelasse algo tenebroso sobre Nathaniel? Dissesse que não ficaríamos juntos? No fundo eu alimentava a esperança de que sim, ele estaria comigo. Não fazia sentido nos conectarmos dessa forma para sermos cruelmente afastados depois.

O táxi se embrenhava cada vez mais em ruas que eu nunca havia visto. Calafrios percorriam meus poros. As ruas escuras e desertas eram compostas de prédios mal cuidados e terrenos baldios. Respirei fundo quando o carro parou. Não sabia se sentia mais medo do olhar psicopata do motorista, ou do prédio no qual estava para entrar. Tinha apenas três andares. Feito de tijolos que de tão gastos estavam cinza. Dava a impressão de que um sopro o faria desmoronar. Dali mal se via a porta de entrada principal, porque ficava escondida por uma enorme lixeira transbordando. Não havia qualquer sinal de movimento por perto. Apenas o som de carros passando por ruas paralelas àquela.

O taxista me avaliou de cenho franzido. Devia tentar entender o que eu fazia. No momento, eu estava em pé com uma das pernas ainda dentro do carro e com um braço apoiado por cima da porta. Pensei em me sentar de novo e desistir daquela ideia maluca, até ouvir um barulho atrás da lixeira.

— Psisst... psissst...

Paguei a corrida e me aproximei levada pela curiosidade. Agarrei um toco de madeira no chão apenas por precaução. Arrastei os meus pés em direção à lixeira. Tentei fazer o menor barulho possível. O som lembrava o ronronar de um gato, misturado ao que seria pele roçando em superfície áspera. Vi alguém abaixado ali, de costas. Ao me ouvir, seu corpo se ergueu. Parecia preparado para atacar caso eu chegasse perto. Segurei o toco acima de minha cabeça. Não sabia exatamente o que pretendia fazer. Dei mais um passo à frente e escutei um grito.

— Aaaaaaaaaaaaaaaa!

Quando me dei conta, estava gritando também. Meu grito se misturou ao daquela pessoa, e ela se virou para me ver.

Amanda.

O gorro do casaco me impediu de ver seus cabelos loiros.

— Ai! Mas que droga, Amanda! Quase morri de susto! — falei arfante e levei a mão ao meu peito. — O que estava fazendo escondida desse jeito? Pensei que fosse um bandido querendo me pegar!

— Claro que eu estava escondida. A madame Nadja só recebe visitas uma vez à noite. Existe uma senha para entrar. Eu não poderia esperar você lá dentro e fiquei com medo de ficar sozinha aqui. Você assustou o gato!

— Tá, desculpa. Vamos entrar logo. Esse lugar me dá calafrios. Eu gostaria de não saber que você já veio aqui várias vezes sozinha, Amanda. Isso aqui parece perigoso!

Seguimos para a porta da frente e Amanda bateu três vezes. Calculei que fosse uma espécie de código. Uma janelinha de vidro localizada onde deveria estar o olho mágico, se abriu, e uma voz masculina perguntou:

— Em que dia estamos?

— De margueritas à lua cheia. — Amanda me cutucou com o cotovelo para que eu olhasse para a frente. No momento, eu a encarava, confusa.

O Penhasco - Livro 1 - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora