Capítulo 68

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O CÍRCULO 

Liza 

Andamos o que me pareceu um longo tempo. Minha cabeça girava, meu corpo implorava por descanso. Enquanto andávamos, sentia meus pensamentos virando sopa, estava incapaz de me concentrar. 

— Há algo muito errado acontecendo aqui. — O homem, que descobri ser um delegado,não parava de dizer. 

Chegamos ao outro lado do cemitério. Eu ouvia os carros no asfalto, estávamos próximos de alguma saída. Esse pensamento me aliviou um pouco.À distância, vi um círculo de fogo com um casal seminu ao centro, amarrados de costas um para o outro e sentados em um jazigo de mármore preto. Fora do círculo, havia um caixão vazio coma tampa aberta.Não consegui entender o que ela e aquele garoto faziam de roupas íntimas no cemitério.Havia uma terceira pessoa. De longe só podia ver sua silhueta, suas mãos apontavam uma arma para os dois. 

Aproximamo-nos lentamente, somente o casal podia nos ver. 

— Liza? — escutei a menina falar quando estávamos um pouco mais perto. 

Acho que sou eu, pois foi esse o nome que o Delegado me chamou. 

Respondi a menina que me olhava apavorada com um "oi". Ela pareceu confusa. 

O delegado, ficou desorientado, obviamente viu algo que eu não notei. Notei lágrimas escorrendo dos olhos dele, apesar da força que parecia fazer para contê-las. 

Ele levou os dedos à boca,pedindo à menina que me chamava que fizesse silêncio.Ela o ignorou e me chamou novamente, elevando sua voz. Parecia irritada. 

— Liza!! — A menina dedurou nossa presença.A terceira pessoa que apontava a arma se sobressaltou e direcionou o cano do revólver para mim. Ela abriu um sorriso debochado no rosto. Sua expressão mudou rapidamente quando o delegado se posicionou à minha frente de forma protetora. 

Ele parecia mais abalado do que ela. Estava nitidamente sofrendo. 

— Ana! Abaixe essa arma! — suplicou com a voz chorosa. 

— Quem você pensa que é? Você nos abandonou! E o meu nome é Stephanie. A garotinha que você deixou para trás morreu. 

— Eu sei que não quer fazer isso, Ana! Vai atirar no seu próprio pai? 

— Há um propósito maior, Delegado Machado. Muito maior que nós dois. Ou devo chamá-lo de inspetor? Conseguiu a sua promoção? — A garota parecia fraquejar a cada segundo que o encarava.Seus braços demonstravam cansaço por segurar a arma.Arquejei quando compreendi o que acontecia ali. Era de se esperar que o delegado reagisse daquela maneira, afinal, aquela menina era sua filha. A angústia pela falta de lembranças tirou novamente meu ar. 

Cada fibra do meu ser gritava que havia algo ainda muito pior prestes a acontecer. Era só o que eu sabia.Por um breve momento, sua filha baixou o revólver. 

O delegado me cutucou: 

— Venha, Liza, vamos soltá-los. 

Paramos de andar ao ouvir o som inconfundível da arma sendo engatilhada: 

— Desculpe, não posso permitir isso. — Stephanie falou visivelmente inabalada. — Ele me deu uma missão e eu pretendo cumpri-la — ameaçou a filha do Delegado. — Pai, venha para o meu lado. Liza, ande até eles. 

— Ana, minha filha, confie em mim. Ele não vai machucar você. Não precisa ter medo. 

— Já disse que me chamo Stephanie! — gritou. — Saia de perto dela! Agora! 

O Penhasco - Livro 1 - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora