PESADELO
Liza
Tentei mover meu corpo e não pude. Senti-me frágil, pequena. A palavra tomou forma em meus pensamentos, mas se embaralhou na língua. Olhei para o lado e vi uma fileira de bebês.
O que eu estou fazendo em um berçário?
Fitei a parede de vidro à minha frente e sorri. Nathaniel me observava através dela.
Uma sombra surgiu atrás dele... Mãos negras e esfumaçadas tatearam seu pescoço.
Um calafrio me percorreu. Tentei avisá-lo, mas eu era só um bebê. Quando ergui o braço, a sombra desapareceu.
***
Um toque quente percorreu meu pescoço. Uma voz macia em meus ouvidos me fez sorrir de olhos fechados.
— Desculpe Liz. Não queria acordar você, mas seu cheiro é irresistível.
— Ah, droga, estou sonhando de novo! — soltei sem pensar.
Agradeci silenciosamente por sua presença, estaria atormentada se ele não estivesse ali. Mas achei melhor não comentar nada, foi só um pesadelo.
Rindo baixo, ele segurou a minha mão e a beijou.
— Eu acho que sei o que sente. — Ele acariciou meu braço, me provocando arrepios. — Não sei por que se sente dessa forma comigo, mas para mim, estar com você é como se o sonho não tivesse acabado.
Suspirei e sorri para ele. Perdi minha voz e as palavras também. Cerrei os olhos para a luz forte entrando pela janela. Olhei o relógio da cabeceira, era meio-dia. Ainda bem que eu sempre tinha os domingos de folga, pois a senhora Barbara era religiosa e nunca trabalhava nesse dia.
— Caramba, já é meio-dia! — Fiz menção de levantar e ele me puxou delicadamente de volta à cama.
— Aonde a dorminhoca pensa que vai? — Cantarolou as palavras, deitando-me de volta no travesseiro.
— É... café... para você.
— Naaão! Eu faço, e vamos comer aqui, na cama. — Ele enrolou carinhosamente uma mecha de meus cabelos em seus dedos e abriu aquele sorriso torto que eu tanto amava.
Subitamente Nathaniel levantou e saiu do quarto. Ouvi seus passos na escada, de onde anunciou, a fim de não me dar chance de responder:
— Fique ai, Liz. Eu já volto! — falou um pouco mais alto, enquanto descia os degraus.
Continuei pregada na cama. Revi a noite anterior em meus pensamentos e me dei conta do quanto ficava diferente com ele. Eu era outra Liza, mais feliz. Finalmente agia mais como eu mesma, não precisava ser a preocupada e responsável, o tempo todo. Eu poderia simplesmente, relaxar. Por outro lado, seria impossível não notar que não só eu, mas todos reagiam de forma intensa à sua presença.
Amanda, por exemplo. Lembro-me perfeitamente de vê-la entrar saltitando pela casa e me perguntar quem era aquele deus com Raquel. Eu teria de inventar alguma história para ela quando lhe apresentasse Nathaniel. Afinal, ela o viu com Raquel, mas procurei afastar essa ideia, já que ele ainda não me explicou por que saiu com minha irmã.
Fiquei perdida em meus devaneios. Analisei os vários ângulos de todas as minhas dúvidas. Perdi a noção de quanto tempo havia passado desde que ele desceu para fazer o café da manhã. Olhei o relógio novamente, contei quarenta minutos. Não que eu estivesse impaciente, mas resolvi espiar pela porta, pois a curiosidade me corroia.
O que ele está fazendo para demorar assim?
Abri a porta do meu quarto. Assim que cheguei ao primeiro degrau da escada, senti o odor de queimado. Percebi uma densa fumaça negra escapando por debaixo da porta. Mais uma vez, bendito seja o domingo! Ben devia estar na segunda etapa de mais uma de suas várias noitadas. Amanda comentou que sairia para a liquidação que esperava havia semanas. E, pela primeira vez, não me importei de saber onde estaria Raquel, pois tinha medo de encará-la.
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O Penhasco - Livro 1 - Completo
FantasySinopse: "Teria sido uma noite como qualquer outra, se ele não tivesse aparecido. E se eu não estivesse completamente sozinha. Com um estranho em um Penhasco e sem lembrar de como fui parar ali. Me assustei quando ele se materializou à minha frente...