Capítulo 11

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A NOITE DE TODOS OS SANTOS

Uma alma no escuro...

Uma alma negra vagava entre os rituais de celebração.

Esta noite, os véus que separavam os mundos se atenuariam.

A passagem, entre os dois lados, estaria aberta.

Não havia barreiras.

Ninguém estava sozinho.

Procurava um corpo para habitar.

Há muito, sabia sobre os festejos. Seria naquela noite. Noite, que aguardava há um século. Tempo que lhe proporcionou um plano. Plano, que não poderiam suspeitar.

Mal pôde acreditar quando o encontrou. O corpo que duraria tempo suficiente. Há tempos hospedava os homens, há tempos os via falecerem sob seus poderes. Mas esse, sobreviveria até a primavera.

Seguiu as chamas das fogueiras.

Observou os humanos.

Observou os anjos.

Ouviu rumores e histórias contadas pelo vento.

Uma chance era só o que precisava. Não cometeria o mesmo erro dessa vez. Aguardava em silêncio.

Quanto maiores as maldições no mundo, maior se tornava sua força.

Naquela noite, bastaria apenas um corpo e nada mais estaria em seu caminho.

Na virada do milênio, o ritual se concretizaria.

O sacrifício estaria feito.

A Terra seria então, sua morada.

Em seu próprio corpo.

Seu próprio sangue.

O renascer de uma vida, após a morte.

A roda continuaria a girar. Sempre.

***

Um breve momento

Liza

Afastei-me sorrateiramente de Raquel e suas amigas. Sentia meu corpo pesado e dolorido por ter passado a noite no chão. Para adiar um encontro com Ben e Amanda, furiosos, usei a desculpa de ir ao mercado. Poderia imaginá-los perfeitamente na sala, fingindo assistir televisão, para que eu não pudesse escapar ao chegar.

Passeei pelas prateleiras, distraidamente. Depois de pouco tempo, aceitei derrotada que já havia pegado tudo de que precisava. O melhor de tudo, foi na hora de pagar as compras, lembrar de que precisaria cancelar, ainda hoje, o cartão que joguei sobre o taxista.

Eu só queria deitar na cama e acordar no Penhasco. Já fazia uma semana  desde o nosso último encontro. Mesmo tendo sido tão profundo quanto o anterior, me provocava frustração. Eu não sabia praticamente nada sobre ele. E todo o mistério emanado de Nathaniel e do Penhasco, aumentavam ainda mais o meu desejo de estar lá. Eu ansiava, e muito, por respostas. Exatamente como previ, Ben e Amanda fingiam assistir televisão quando cheguei.

— Olha, só, se não é a nossa amiga fugitiva! — Ben exalava sarcasmo, com a feição totalmente emburrada.

— Ai, Ben! Por favor... — pedi. — Não estou com ânimo para sarcasmos. — Me joguei no sofá vermelho próximo a eles, exausta, mas pronta para os sermões.

— Por que você foi ao mercado de novo? — Amanda olhou desconfiada para as sacolas que eu mantinha em meu colo. — Fizemos as compras na semana passada.

O Penhasco - Livro 1 - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora