Capítulo 40

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CONEXÕES

Liza


A névoa negra me invadia como se viesse de dentro para fora. Sombras escuras bloqueavam minha visão. Fora de mim, eu podia sentir um toque confortador em minha pele. Morno. Suave. Mas meu corpo por dentro, parecia feito de gelo. Eu estava paralisada. A garra que antes me arranhava, agora me acariciava de dentro para fora. Fria. Cortante.

- Liza, Liza! Acorda!

Um leve tremor percorreu meus poros, como um bálsamo curativo. As sombras se dissiparam lentamente. A garra perdeu força. O som calmante de água chegou aos meus ouvidos. Abri os olhos. Vi tudo acima de mim desfocado. Minha cabeça rodou tanto que precisei fechá-los de novo. Expirei o ar com força. Como se no gesto, eu expelisse o veneno que antes me sufocava.

- Nate - murmurei com a voz embargada.

Minha cabeça repousava em seu colo. Ergui as pálpebras lentamente. Fitei os galhos da árvore farfalhando com o vento. Ele havia me levado para o Penhasco. O mundo entrou em foco e consegui ver sua expressão. Tensa. Preocupada. Seus dedos passearam por meu rosto e pescoço. Estremeci. Nate deslizou pela grama, se deitou ao meu lado e me puxou em um abraço.

- Liza. Eu quase perdi você.

- Eu sei que você vai sempre me trazer de volta.

Ele suspirou por cima da minha cabeça. As engrenagens do meu cérebro lutavam para voltar a funcionar. Mas eu me sentia sonolenta, quase em estado de dormência. Suspeitei que Nate tivesse algo a ver com a calmaria me invadindo.

Adormeci.

As estrelas pontilhavam o céu quando despertei. Nate fitava o horizonte, absorto. Sentei-me e recostei no tronco da árvore. Nate imitou meu gesto. Admiramos as estrelas no Penhasco em um momento calmo. Havia um silêncio tranquilo, nada além do som das cachoeiras encontrando o mar e do vento suave se manifestava. Infelizmente eu sabia que o silêncio, pesava ali para esconder o nosso grito. O pedido mudo de socorro pairava entre nós.

O café da manhã se revirou no meu estômago quando, mais uma vez, constatei que Madame Nadja havia acertado:

"Vocês são as almas que eles desejam. Duas almas, para as duas mais vis criaturas. A Serpente e o Vazio."

Não havia outra explicação. Mas por que eu? O que há de errado comigo? Por isso Nate anda tão angustiado?

Não existiam mais dúvidas. Uma presença macabra me perseguia. Cada vez com mais força.

O que será de mim quando eu não puder escapar? O que será de Nate?

Teria mesmo algo atrás dele também?

Eu só queria que pudéssemos ter paz. Abracei os joelhos e me encolhi. Senti suas mãos quentes acariciarem minha coluna. Desejei inocentemente sentir mais uma vez o abraço de meus pais. Desejei que a minha vida voltasse ao normal.

Uma parte de mim guardava a certeza: eu nunca mais os veria. Já a outra, a da esperança, me despedaçava com lâminas de saudade. De descrença. Comecei a pensar no dia misterioso do desaparecimento.

A noite em que chegamos a Los Angeles era um filme que eu conhecia todos os detalhes, pois eu o assistia constantemente. Mas apesar de repensá-lo dia após dia, não havia explicação. Eu nunca encontrava sentido. As perguntas me machucavam, mas eu as repetia. Quem daria fim à vida de um casal na faixa etária dos quarenta e cinco anos, classe média, ambos do tipo caseiro, poucas amizades e nenhuma dívida? E sem um único motivo? Teria sido um acidente? Prazer? Estavam no lugar errado, na hora errada?

O Penhasco - Livro 1 - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora