O SÓTÃO
Ethan
Ethan acordou consciente no sótão. Úmido. Vazio. Escuro.
Pelo visto, nunca mais voltaria para casa. Sua cabeça girava. A boca salivou. Um aviso de que o vômito estava a caminho. Certamente comeu algo estragado, tinha gosto de carne crua. Novamente, não se lembrava de como chegou ali.
Ethan ficava cada vez mais angustiado. Começava a se esquecer da última vez que seu corpo, obedeceu aos seus comandos.
Sentado no chão, apoiou a testa nas duas mãos suadas. Um incômodo no estômago lhe provocou arrepios. Houve tempo apenas de virar a cabeça e vomitar quando as lembranças invadiram sua mente.
Mas não podia ser ele quem cometia tais monstruosidades. Talvez algo se apoderasse do corpo de Ethan, e adormecesse seus pensamentos para agir em seu lugar. Suas mãos não eram suas, nem suas pernas, braços, olhos...
Não, isso é maluquice! Ou um pesadelo.
— Ethan... um rapaz tão sensato como você, tentando se convencer de que está alucinando. Você me decepciona... Deixe-me esclarecer. Isso é um pesadelo, mas só para você, meu caro.
A voz, a maldita voz!
Serpenteou pelo cômodo. Surpreendeu-o com seu sussurro pelos cantos.
— Por que não diz o que quer? Eu fa... ço! — Ethan implorou sem fôlego. Os espasmos provocados pela enxaqueca cortavam sua fala.
— Não se preocupe, em breve não sentirá mais nada. Estará vazio.
— Não será sim... ples assim. Devem ter no... tado a minha ausência na faculdade. Devem estar à mi... nha procura! — Era muito estranho gritar para uma voz no breu.
Por mais que metade dele lutasse para acreditar que se tratava de sua imaginação, o peso da realidade o atingiu: Ethan corria perigo. Não havia a menor chance de fugir. Estava fraco demais, para sequer tentar cavar um buraco no chão ou arrombar uma porta.
— Oooooh — sibilou a voz. — Devo me preparar então, alguém da faculdade está a caminho. Meu fim se aproxima!
A voz gargalhou. O sótão foi preenchido por aquela risada enjoativa.
— Preste atenção, meu caro. É melhor repensar suas palavras, porque da próxima vez que gritar, perderá a fala. Cortarei sua língua com muito prazer. Quanto à sua família... — A voz continuou — Sua mãe parece muito satisfeita com suas últimas semanas na faculdade, e lhe mandou os parabéns pelas altas notas atingidas. Como pode ver, tenho tudo sob controle. Eu sempre tenho tudo sob controle. Foi você, quem se perdeu uma vez, lembra? Se não tivesse feito aquilo, eu não teria entrado. E uma vez que eu entro, vou dominando, lhe preencherei aos poucos, até que o possua por inteiro. E será então meu... Sempre meu.
Ethan analisou as palavras em silêncio. Não ousou falar. A voz o aterrorizava. Ele soube exatamente ao que a voz se referia. A voz sabia, então, do que ele havia feito no passado. Ainda que não pudesse voltar atrás, arrependeu-se amargamente. Ethan, aprendeu que nada de bom poderia vir de uma vingança.
E o que ele fez, era um segredo que levaria para o túmulo. Somente a pessoa a quem prejudicou conhecia os fatos.
— Ah, o medo, uma das minhas emoções favoritas — sibilou a voz antes de deixar o sótão.
Ethan ficou novamente sozinho. O que a voz planejava fazer. Aquilo era horrível demais. Pobre garota. Pobres garotas. Deitou-se inerte, para aguardar pela próxima vez que seu corpo seria utilizado, como um fantoche. Essa era a sua penitência, pelo mal causado no passado. Nunca acreditou no poder do perdão. O ceticismo, sempre cegou os homens.
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O Penhasco - Livro 1 - Completo
FantasiSinopse: "Teria sido uma noite como qualquer outra, se ele não tivesse aparecido. E se eu não estivesse completamente sozinha. Com um estranho em um Penhasco e sem lembrar de como fui parar ali. Me assustei quando ele se materializou à minha frente...