Capítulo 24

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PLANOS

Liza

Eu me sacudi. Eu me debati. Esperneei.

— Me larga! Me solta! Tire as mãos de mim!

A mão apertava minha garganta. Cravei as unhas para me livrar do sufoco. Arranhei meu próprio pescoço.

— Ben, Amanda! Socorro!

Uma mão invisível acariciou minha nuca como uma pedra de gelo descendo por minha coluna.

— Shhhhh. Não adianta gritar, minha cara. Eles não podem ouvir. 

Tremi agoniada. A voz sibilava, eu a ouvia dentro de mim.

— Não farei nada com você. Não agora.

Um sopro pairou no ar. E o oxigênio entrou ardido em meus pulmões.

Meu pescoço ficou livre.

A voz desapareceu, mas não fiquei para me certificar.

Corri até a sala. Para aumentar meu terror, Ben e Amanda aparentemente dormiam. Acendi todas as luzes da casa e liguei a televisão. Depois, me encolhi debaixo de um edredom no sofá. Cada ruído da rua, do vento ou dos móveis, me fazia tremer. O medo arranhava minha consciência de duas formas horríveis. Alternava-se entre os rostos das meninas mortas no banheiro do shopping e a presença fria em meu quarto. O noticiário da noite relatou que elas possuíam dezessete anos, ambas alunas da mesma escola de Raquel.

Meus olhos ardiam de sono quando horas depois, criei coragem para me deitar. Eu sentia gelo nas costas apesar de estar na cama, debaixo das cobertas. E mesmo ciente de ser uma mera ilusão de segurança, dormi com a porta aberta e a luz acesa.

***

Arquivamos o acontecido no shopping em algum lugar escondido em nossa memória. E sem fazer nenhum acordo, Ben, Amanda, e eu, o seguimos a risca durante a semana que se seguiu.

Fui três vezes ao Penhasco nos dias que se passaram, nem mesmo sua brisa suave foi capaz de me acalmar. O mar estranhamente calmo concordava comigo e lamentava sua ausência. Hoje completava o quinto dia sem notícias de Nathaniel.

Nada!

Vaguei absorta pelas ruas ao voltar do trabalho. Sentia-me como uma alma perdida entre os vivos. Vazia. Um vazio que eu me esforçava em ignorar. Provocava-me dor, como uma ferida aberta, que lateja com a mais suave brisa que a encosta. Minha mente revivia incessantemente tudo que passamos juntos. Ele era real, eu tinha certeza. Sei que não perdi a razão, pelo menos ainda não. Além de estar convicta disso, pensar mais calmamente nos detalhes me dava à certeza de mais uma coisa: Havia algo a mais a seu respeito. Especial. Algo que nenhum outro ser humano possuía. Algo fora desse mundo.

Não poderia ser normal que me acalmasse apenas com seu o toque. Seria normal que pudesse ver dentro de mim? Às vezes eu poderia afirmar que ele sentia o que se passava em meus pensamentos, pois se refletia em seus olhos. E o que seria o Penhasco, senão um paraíso escondido dentro desse mundo perverso? E guardado por quem mais a não ser ele? Tentei recordar do que já havia estudado sobre criaturas mitológicas e lendárias, porém nada chamado de criatura teria a menor leve associação a ele.

Girei a maçaneta e lutei para agir despreocupadamente. Meus amigos conversavam na sala quando entrei:

— Olá, estranha! Junte-se a nós, venha ver o que estamos planejando. — Ben sustentava um sorriso de quem aprontou.

O Penhasco - Livro 1 - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora