#pratodosverem: imagem de um céu de nuvens carregadas com filtro roxo.
Carnaval em casa
***
— Certeza que não quer ir? — Luana questiona do outro lado da linha.
Olho para trás, meus pais assistindo Rugrats: Os Anjinhos, enquanto estou com meu dedo enrolado nos cachos do telefone vermelho que minha mãe adora. O telefone fixo fica perto da sala, então sempre fico intimidada pela proximidade, mas meus pais não me proíbem ou algo do tipo, eu é que tenho essas ideias loucas. Ouço a risada da minha mãe enquanto respiro no fone.
— Tenho sim! Mas obrigada por sempre me chamar — Declaro, suspiro fundo — Aproveita o carnaval e juízo!
Ouço sua gargalhada e alguém a apressando a se arrumar.
— Você não precisa me desejar isso! Meu segundo nome é Juízo, Jupterzinha. Agora tenho que ir, bye! — Despede-se.
— Okay, bye! — Digo, por fim.
Ouço o toque de linha cortada, mas mantenho o aparelho em meu ouvido, enrolando o dedo indicador no fio encaracolado por mais alguns segundos antes de descê-lo até o gancho. Por mais alguns segundos, permaneço estática, com as mãos em cima da mesa, encarando-me no espelho preso à parede.
Caminho de volta para sala, olho para meus pais assistindo ao desenho animado, sorrio. Vê-los assim me deixa feliz, mesmo não estando.
— Vou mexer no computador! — Aviso, antes de correr para meu quarto.
— Cuidado com os degraus! — Minha mãe grita.
— Está bem! — Respondo no mesmo tom.
Fecho a porta do quarto as minhas costas, ando até minha penteadeira, pegando meu Nokia na pequena gaveta. Meus pais me deram de presente há um ano, mas o celular fica mais guardado do que tudo. Gosto do jogo da cobrinha, sou viciada, então em todos os fins de semana ou estou no computador jogando algo, conversando com as meninas ou estou em meu celular fazendo a mesma coisa, trocando SMS.
Ligo ele, gosto de ver a tela inicial com a logo da marca. Deito em minha cama, de barriga para baixo e começo a jogar.
Duas horas depois estou exausta de fazer a mesma coisa. Estou sentindo tédio, essa é a palavra. Agora, de barriga para cima, encaro o teto do meu quarto.
Faz alguns dias que estou assim, tediosa, parece que tudo me cansa, fica chato depois de um tempo. Estou esperando a maré passar, depois vai ficar tudo bem.
Viro de lado, depois de alguns minutos para o outro. Além da impaciência, o calor está me consumindo. Isso tudo é tão chato!
Será que está legal lá no centro?
Penso, mas logo aperto meus olhos e sacudo a cabeça para os lados, em uma tentativa de dissipar os pensamentos.
Não, não e não! Para com isso!
Deve estar, mas decidi não ir, então nada de lamentar. Não gosto de multidões, me sinto sufocada no minúsculo espaço que é disponível. Também não curto bebidas alcoólicas, as brigas, os caras insuportáveis e bêbados, a fumaça de cigarro… é tudo terrível. Melhor ficar aqui, no seguro e quentinho ambiente que é meu quarto.
Mas não sei se esse medo está me impedindo de viver certas experiências. Sei a resposta, mas travo quando estou lá no lugar, as pessoas se divertindo e a Júpiter chata e séria esperando o desconforto passar. Estou em um ponto que não consigo fingir que estou gostando, antes conseguia sorrir e aguentar até o final, por isso, agora prefiro ficar sozinha a estragar a festa dos outros.
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2002
Romancelola | © 2021 SINOPSE: Júpiter está apaixonada por seu "melhor amigo" há não sei quanto tempo, na verdade, ela sabe as horas exatas de cada dia em que passou pensando nele, Augusto Vettel. Ele mudou-se para a Áustria com sua família há algum tempo...