capítulo 33

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parte II

Beije-me sobre o crepúsculo

***

Na volta do banheiro, Greta me perguntou se eu queria experimentar um pouco do prato da noite. Aceitei prontamente, porque comer coisas gostosas é comigo mesma. Está bem, eu não saberia dizer se era mesmo boa ou não, no entanto se me recordo bem, as comidas na casa do Guto sempre foram deliciosas.

O prato feito era torta de frango. Quando a experimentei, imaginei que a sensação de chegar no paraíso era parecida com aquela. O tempo estava perfeito.

— Que perfeição! Mas nem comente com minha mãe, ela vai me matar se souber o que disse

Greta achou graça, rindo.

— Vai ser nosso segredo

Levei a palma da mão no centro do peito.

— Fico aliviada!

— Agora temos que voltar, senão daqui a pouco estranham nossa demora

— Verdade!

Passei a mão na minha boca, para limpar qualquer farelo da maravilhosa torta de frango.

Voltamos rapidamente para a sala de estar onde estavam meus pais, Augusto e seu pai esperando por nós. Em nenhum momento me senti culpada por ter experimentado antes de todos.

Conversamos sobre alguns assuntos banais e nossos parentes. Meus pais perguntaram sobre a irmã do Augusto, os pais dele ficaram empolgados e felizes para falar da filha e do neto.

Estava morrendo de fome, ainda mais depois de provar um pedacinho da torta de frango. Todos pararam de falar justamente na hora em que meu estômago fez um barulho altíssimo protestando de fome. Fiquei vermelha no mesmo instante. Que vergonha!

—Vamos jantar que alguém está com fome! —o pai dele disse ao se levantar enquanto ria da minha cara, assim como os outros.

—Me desculpem! — pedi, tampando o rosto.

—Sem problemas, querida! —a mãe dele disse enquanto acariciava meu cabelo, fazendo arrepios percorrerem meu corpo, como sempre acontece.

Finalmente fomos jantar. Guto sorriu para mim e apertou minha mão que havia entrelaçado na sua.

A refeição foi preenchida com o som de nossas conversas e risadas. Pensei que seria tudo estranho, mecanizado e forçado, mas não, nossos pais estavam com saudade das conversas de antes que aconteciam em reuniões na escola, em festas de fim de ano da escola, e queriam colocar toda conversa e acontecimentos perdidos em dia. E, inacreditavelmente, o Augusto e eu também ficamos super naturais, sem nervosismo, demonstrando ou sentindo-nos pressionados. Ele dizia umas palhaçadas e conversava com meu pais e eu com os seus.

— Na Áustria é tudo muito frio, mas eu gostava de lá. Tenho alguns amigos por lá, nos falamos até hoje, o que é bem legal. Pensei que iríamos nos afastar por conta da distância — ele disse respondendo a uma pergunta do meu pai sobre Brasil x Áustria — Como meus familiares também vivem lá, eu fico com saudade, mas, infelizmente, não é possível viver em dois lugare soa mesmo tempo

—Depende —papai respondeu com seu tom sábio —Podemos estar fisicamente em um local e em diversos sentidos, em outro

—Verdade, José

— Vocês moravam em qual cidade? — minha mãe perguntou.

— Em Viena, que na minha opinião é a cidade mais linda de lá. Meu pai nasceu na cidade, a família toda pra ser sincero, meus tios, avós... - ele olhou para o pai e depois brincou —Ele era e agora é novamente, o único isolado do mundo. Acho que foi por isso que ele quis se mudar pra lá

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